sexta-feira, 18 de março de 2011

Refugiados do Campo de Concentração em Jiral

Longe de suas casas, sem dinheiro, sem alojamento, sem documentos, sem referências. Alguns arrastando ou carregando na cabeça, o pouco que puderam salvar do fogo, fogem a pé do canteiro de obras das Hidrelétricas de Jiral em Jací-Paraná, muitos ainda estão lá nas frentes de batalha, dentre eles, alguns reclusos que pedem intervenção da comissão dos direitos humanos. A cena é de guerra, a imagem é de revolta num campo de concentração. 

Multidões de trabalhadores rompem com uma exploração de suas forças de trabalhos abafada  pela estatal que lucra a custa de todos sem querer investir em condições humanas de trabalho. Tudo foi silenciado e quando eclodiu a revolta os trabalhadores passaram a ser vistos como vânda-los. A cidade de Nova Mutum (construída pelas Hidrelétrias como compensação, onde moram os engenheiros e demais funcionários da empresa e moradores da Velha Mutum, divididos por nível social pela espacilazação geográfica , em que as casas dos moradores remanejados ficam mais distante do centro (escola, bancos, restaurantes, divsão que se reflete na sala de aula, onde os filhos dos engenheiros hostilizam de invasores os filhos dos moradores remanejados para a cidade) é isolada por policiais para impedir  a entrada dos operários refugiados, em Jací não tem mais um palmo livre para ficar em pé. Assim, eles são obrigados a passar direto e aqueles que conseguem  carona em caminhões, caçambas e todo tipo de transportes se amontoam na rodoviária da cidade de Porto Velho. Passando pela rodoviária e em suas proximidades nos deparamos com aquela multidão  de rostos desolados sem ter para onde ir. E a toda hora chegando em grupos ou sozinhos  alguns com malas, bolsas ou trouxas dos poucos pertences que lhe restaram, outros simplesmente sem nada. A população de Porto Velho está assustada porque esses trabalhadores quebraram o silêncio, se revoltaram. Muitos  desses trabalhadores simplesmente assombrados com tudo, vendo seus dormitórios e o pouco que tinham em chamas, fugiram. Há noticias de que alguns que estavam do lado esquerdo do rio com medo de passarem por onde se alastrou o fogo estão saindo em embarcações a própria sorte.

Fogem do fogo, da revolta, da destruição do espaço em que eram mantidos dentro das condições impostas a eles para ganhar seus sustentos e de suas famílias, mas que era o espaço da exploração  de suas vidas e das suas sanidades. Nada é revelado oficialmente, o que temos são apenas depoimentos e indignações anômimas de operários que vivem na carne esse cotidiano do desespero humano. 

Ano passado o registro feito pelo celular de um operário causou escândalo na sociedade nacional, mas depois tudo foi abafado com panos quentes, mas agora a guerra foi instaurada novamente, mas a empresa declara que tudo não passa da ação de vândalos, nada tem a ver com questões trabalhistas. Não cabe a mim dizer quem está certo quem está errado, mas eu convido a todos e a todas a analizarem os processos e os contextos, ao invés, de simplesmente aceitarem a versão dos empresários e da imprensa, escutem também a versão dos trabalhadores, olhem também os impactos causados pela impresa. Não adianta simplesmente nos fecharmos em nossas casas por nos sentirmos ameaçados. 

Lembrem-se, isso é resultado de um processo, e se eles estão amontoados por vários lugares da cidade, isso é consequência da forma em que vieram se dando as coisas, pressa de terminar as obras, super-exploração da mão de obra, injustiças trabalhistas e lucro, muito lucro para as estatais as custas de vidas Humanas. 

A empresa tenta desesperadamente enfiar os operários refugiados amontoados nos ginásios de algumas escolas e os que ainda não conseguiram lugar nesses espaços estão no relento como cachorros na sarjeta. Todo o esforço é de esconder o caos instaurado.

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