quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O que vi nas obras de artes do Dutika

O Batismo de São Sebastião

Ensaio

Rompeu (ou rompimento do) o Dique

Capela para Santo Antônio

Super Interpretação
Por Márcia Nunes Maciel (indígena virtual)

A arte proporciona muitas possibilidades, reflexão, identificação, repugnação. Ela inspira, revigora, incomoda, provoca. Não existe interpretação sobre elas. A partir da fricção do ser e a arte podem fluir desesperos, vazios, horror, esperança, alegria, pretextos para a explosão de emoções, desabafos, encontros e desencontros, construções e desconstruções, mas tudo isso só é possível quando existe sensibilidade.  Foi com esse olhar que espreitei, adentrei, me entreguei, e interpretei  as obras do Flávio Dutika expostas na Cantina do Porto. Em cada uma delas senti a força, os desejos, as paixões, o incômodo, os desesperos, as releituras de uma arte sagrada e profana, carregada do ser do mundo e do ser daqui diluídos no desespero e na paixão do humano.  Na explosão das cores, dos corpos e da diluição dos conceitos, diante dos meus delírios, tomei quatro obras como pretexto para expressar o meu desejo transgressor, o meu horror e minha revolta: Batismo de São João Batista, Ensaio, Rompeu (ou rompimento do) o Dique e Capela para Santo Antônio.
Batismo de São João Batista foi renomeado por mim como Crime Passional que no meu devaneio representa a imagem de dois amantes. Dessa imagem fluiu a história de Deus que era amante de São João Batista.  Traído Deus mata seu amante com toda a parcialidade que uma paixão ferida pode ter e toda a força divina.
Ensaio. Diante da obra me remeti imediatamente a Sófocles que se fundiu com a minha revolta pelas injustiças locais e passei a chamar a obra de emparedados vivos que se verteu em desabafo: Todos  os que habitavam o Madeira foram emparedados vivos. Qual foi a lei que feriram? Por quem foram julgados? Eles clamaram por justiça, mas não foram ouvidos. Se o adivinho Tirésias estivesse entre nós saberíamos do temeroso presságio diante de tantas desgraças. Pobres de nós que não temos sequer uma Antígona com o exemplo comovente de amor fraternal. Se fosse eu responsável por tantas mortes, como Édipo Rei furaria meus olhos! E vocês que apenas olham? Não pensem que sairão ilesos, pois breve cairá a treva perene.  
Rompeu (ou rompimento do) o Dique. Essa obra representa para mim a revolta do rio. Seu título me remeteu aos Egípcios que construíam diques para fertilizar a terra, assim, ela paria a vida de uma civilização. Agora evoluímos, construímos barragens, violentamos os rios, mudamos seus rumos, matamos todas as formas de vida em suas margens. A terra ficou estéril. O tempo passou. O Rio se revoltou... Arrebentou as paredes de concretos que o violentaram no seu aprisionamento.
Capela para Santo Antônio. Nessa obra basta sentir a dor que sinto para ver os encravados entre as ferragens e o concreto, corpos, espíritos, faunas, floras, sagrados e profanos. É só olhar e ver: os pilares das barragens estão lá. Sobreposta a ela está a feroz onça pintada que nos encara e nos interroga?????
Foi isso que eu vi... O que tem isso a ver com a arte do Dutika? Talvez nada, tem a ver comigo e com a gente invisível que muitos não enxergam!



Um comentário:

  1. Meu quadro preferido de Dutika é "Capela para Santo Antônio" ... me chamou a atenção pelos enquadramentos que a doutrina cristão impõe ao ser humano em nome de uma sublevação através do sofrimento para tocar o sagrado.

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