sexta-feira, 25 de novembro de 2011

repassando programação cultural em Porto Velho


Parabenizo a secretaria de cultura por esse projeto e principalmente por estar valorizando o Bairro Mocambo tão importante na História de Porto Velho esquecido e a merce da marginalização e preconceito. Segue abaixo a programação.

Bairro do Mocambo recebe Cinco e Meia e Acordes na Praça

Programação inclui grandes nomes da música regional e será iniciada às 16h com a mostra de artesanato “Feira do Sol”, na praça São José

O bairro Mocambo, berço da boêmia de Rondônia, será palco nesta sexta-feira de uma festa cultural, com a apresentação de grandes nomes da música regional. O grupo “Choro entre Amigos” vai iniciar a programação, às 20h. Em seguida Heitor Almeida apresentará  o festejado show “Eternamente Cartola”. O evento será finalizado com o som contagiante da Banda Sambolero, sob o comando de Orismildo. A programação também inclui a mostra de  artesanato “Feira do Sol”, a partir das 16h, na praça São José, e pratos regionais, como vatapá, galinha picante e tacacá.

A tarde-noite cultural desta sexta no Mocambo é uma realização dos projetos Cinco e Meia e Acordes na Praça, com patrocínio da Secretaria Estadual de Cultura, Esporte e Lazer (Secel) e apoio da Fundação Municipal de Cultura Iaripuna e da Associação de Moradores e Amigos do Mocambo. Presidente da entidade, Géri Anderson, lembra que o Mocambo é um reduto da cultura porto-velhense. “Quando a cidade de Porto Velho ia do Triângulo até o Km 1, os boêmios se divertiam no Mocambo”, lembra Géri.

Choro

O grupo Choro entre Amigos que se apresenta no Mocambo será formado por Nicodemus (violão sete cordas), Válber (pandeiro), Válber (cavaquinho e bandolim), Paulo Humberto (flauta) e Nélson (clarinete). A participação de músicos talentosos, que já dominam seus instrumentos, promete uma grande apresentação musical.

O show “Eternamente Cartola” produzido e apresentado por Heitor Almeida foi criado em 2009 e incluído no Movimento Gente da Mesma Floresta, sendo considerado um dos melhores trabalhos apresentados recentemente na região Norte. O trabalho terá a participação de Heitor Almeida (voz e percussão), Bosco (saxofone), Nei (cavaco), Júnior Lopes (bateria) e Ênio (surdo, voz e violão). O grande compositor Cartola, que dá nome ao trabalho, dispensa comentários.

Reduto

Formado por antigas famílias de Porto Velho, o bairro Mocambo abriga descendentes de trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, Soldados da Borracha e outros nordestinos que se transferiram para a Amazônia na primeira metade do Século XX. O bairro abriga poetas, músicos, artesãos e artistas plásticos. Criado há seis anos, o bloco de carnaval de rua “Até que a Noite Vire Dia”, formado no Mocambo, já é considerado o terceiro maior da cidade e no Carnaval de 2011 reuniu 30 mil pessoas.

De acordo com Géri Anderson, a presença do Cinco e Meia no ninho da Coruja, no bairro Areal, há duas semanas, inspirou a ideia de convidar o projeto a também se apresentar no Mocambo. O convite foi prontamente aceito pelo secretário Estadual de Cultural, Francisco Leilson -o  Chicão, e o Bubu, produtor do Cinco e Meia. “A nossa comunidade tem poucas oportunidades de lazer, por isso esperamos a presença de todos nesta festa da cultura, que inclui grandes nomes da música e das artes de Porto Velho”, diz o líder comunitário.


Serviço – Projeto Cinco e Meia no bairro Mocambo
Apresentações –  Grupo Choro entre Amigos, Show “Isto é Cartola” e banda Sambolero
Local – Praça São José, bairro Mocambo
Horário – 16h – Mostra de artesanato “Feira do Sol”
                 20h – Programação musical

Ana Aranda – assessoria de imprensa


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Cinco e Meia apresenta samba.docCinco e Meia apresenta samba.doc
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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O que vi nas obras de artes do Dutika

O Batismo de São Sebastião

Ensaio

Rompeu (ou rompimento do) o Dique

Capela para Santo Antônio

Super Interpretação
Por Márcia Nunes Maciel (indígena virtual)

A arte proporciona muitas possibilidades, reflexão, identificação, repugnação. Ela inspira, revigora, incomoda, provoca. Não existe interpretação sobre elas. A partir da fricção do ser e a arte podem fluir desesperos, vazios, horror, esperança, alegria, pretextos para a explosão de emoções, desabafos, encontros e desencontros, construções e desconstruções, mas tudo isso só é possível quando existe sensibilidade.  Foi com esse olhar que espreitei, adentrei, me entreguei, e interpretei  as obras do Flávio Dutika expostas na Cantina do Porto. Em cada uma delas senti a força, os desejos, as paixões, o incômodo, os desesperos, as releituras de uma arte sagrada e profana, carregada do ser do mundo e do ser daqui diluídos no desespero e na paixão do humano.  Na explosão das cores, dos corpos e da diluição dos conceitos, diante dos meus delírios, tomei quatro obras como pretexto para expressar o meu desejo transgressor, o meu horror e minha revolta: Batismo de São João Batista, Ensaio, Rompeu (ou rompimento do) o Dique e Capela para Santo Antônio.
Batismo de São João Batista foi renomeado por mim como Crime Passional que no meu devaneio representa a imagem de dois amantes. Dessa imagem fluiu a história de Deus que era amante de São João Batista.  Traído Deus mata seu amante com toda a parcialidade que uma paixão ferida pode ter e toda a força divina.
Ensaio. Diante da obra me remeti imediatamente a Sófocles que se fundiu com a minha revolta pelas injustiças locais e passei a chamar a obra de emparedados vivos que se verteu em desabafo: Todos  os que habitavam o Madeira foram emparedados vivos. Qual foi a lei que feriram? Por quem foram julgados? Eles clamaram por justiça, mas não foram ouvidos. Se o adivinho Tirésias estivesse entre nós saberíamos do temeroso presságio diante de tantas desgraças. Pobres de nós que não temos sequer uma Antígona com o exemplo comovente de amor fraternal. Se fosse eu responsável por tantas mortes, como Édipo Rei furaria meus olhos! E vocês que apenas olham? Não pensem que sairão ilesos, pois breve cairá a treva perene.  
Rompeu (ou rompimento do) o Dique. Essa obra representa para mim a revolta do rio. Seu título me remeteu aos Egípcios que construíam diques para fertilizar a terra, assim, ela paria a vida de uma civilização. Agora evoluímos, construímos barragens, violentamos os rios, mudamos seus rumos, matamos todas as formas de vida em suas margens. A terra ficou estéril. O tempo passou. O Rio se revoltou... Arrebentou as paredes de concretos que o violentaram no seu aprisionamento.
Capela para Santo Antônio. Nessa obra basta sentir a dor que sinto para ver os encravados entre as ferragens e o concreto, corpos, espíritos, faunas, floras, sagrados e profanos. É só olhar e ver: os pilares das barragens estão lá. Sobreposta a ela está a feroz onça pintada que nos encara e nos interroga?????
Foi isso que eu vi... O que tem isso a ver com a arte do Dutika? Talvez nada, tem a ver comigo e com a gente invisível que muitos não enxergam!



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A cada dia que passa me sinto mais indígena

Minha referência existencial é minha Avó. Ela me criou dentro dos seu modo de ser amazônico. Vim tomar consciência disso depois que eu entrei na Universidade. Hoje tento fazer uma retrospectiva de quando foi que comecei a  me sentir indígena. Lembro que nas peças apresentadas na igreja eu gostava de representar o papel da índia. Com o amadurecimento intelectual passei por duas fases a de desconstrução e construção: a primeira fase foi a de desconstrução do estereótipo do termo índio (termo do colonizador). Desenvolvi essa discussão na minha monografia de Bacharelado: A Construção de Uma Identidade - História Oral com o Povo Cassupá. Entrei numa linha de descontrução de tudo partindo da negação a formatação social do ser mulher, vivi isso até as últimas consequências. Ao mesmo tempo me afirmava como pesquisadora a partir da pesquisa em colaboração com os Cassupá. Depois disso iniciei uma linha de pesquisa sobre mim mesma. Minha dissertação de mestrado parte da minha própria avó. É a história de vida de quatro mulheres que vivenciaram o espaço do Seringal na Amazônia. Em suas histórias de vida revela-se o afeto pelo espaço vivenciado e as relações interétinicas com Povos Indígenas. Após o mestrado voltei a assumir como coordenadora o projeto de educação escolar indígena na Secretaria de Educação de Porto Velho (coordenação local, não é a coordenação do núcleo de educação escolar indígena a nível estadual, faço questão de esclarecer que não faço parte desse núcleo, por discordar de posturas de alguns técnicos não indígenas que atuam no mesmo). Havia antes do mestrado atuado por um ano como técnica no projeto de educação escolar indígena na Representação de Ensino de Porto Velho, isso em 2005 e começo de 2006, período em que apesar de pouca estrutura tive apoio da representante de ensino para fazer meu trabalho. Após o mestrado em 2010 retornei para o mesmo projeto. Fiquei até o meio do ano de 2011 por motivos de resistências e enfrentamentos para garantir uma politica de atendimento as etnias da nossa jurisdição eu fui devolvida e por ter apoio da gerente de educação que não está mais em exercício fiquei em outro setor, mas minha atuação continuou sendo na educação escolar indígena. Como Coordenadora trabalhei por um ano, sem ter carro para ir para aldeia fazer assessoria pedagógica, ia de carona com o carro da associação da etnia que eu trabalhava, fui em carro próprio, tirei dinheiro do bolso e cada vez que ia para aldeia era uma briga com a representante de ensino da época porque eu ficava indignada por não ter pelos menos carro para ir para a aldeia. Não tinha espaço para receber os indígenas, e éramos vistos como problema no setor pedagógico. Depois atuando na comissão de implantação do ensino médio indígena acreditei que enfim haveria a implantação de uma politica pública conforme recomenda a legislação indígena, mas depois de muito trabalho, a última fase que seria o forúm com as representações das etnias do Estado para apresentar o projeto elaborado a partir das consultas nas aldeias, não vai mais acontecer esse ano por falta de orçamento, isso quebra todo o processo, até mesmo porque não sabemos como as coisas serão conduzidas daqui pra frente. Desde o dia 20 estou devolvida novamente, queria retomar os projetos iniciados com as comunidades que eu estava trabalhando enquanto tramita meu processo de afastamento para o doutorado e manter parceria após a publicação do mesmo, mas isso não foi permito. Por todas as violências simbólicas que senti na pele, fui me sentindo cada vez mais indígena. Agora no Doutorado em História Social na USP incio a segunda fase: a de construção, vou trabalhar com história oral -tradição oral com as filhas das mulheres que fizeram parte da minha dissertação. No percurso da pesquisa uma questão tem se tornado latente para mim, o apagamento da identidade indígena na minha família.  Acredito que no final da minha tese eu tenha  conseguido reunir os fragmentos de memórias e costurado uma história que aponta para os Mura e Munduruku. Hoje vejo que foi preciso desconstruir para agora construir... mas sob nova ótica!