segunda-feira, 8 de junho de 2015

Depois da semana em São Paulo o aconchego da família na volta para casa



Passei uma semana intensa em São Paulo entre os dias 25 a 29 de maio na semana de ciências sociais na usp. Muitos debates, muitas emoções, encontros entre parentes indígenas, amigas e amigos e novos aliados da causa indígena, entremeado com febre e garganta inflamada, mas que não me fez esmurecer por demais por causa do cuidado de todos e todas que estavam ao meu redor. 

Na volta para casa a melhora imediata e a surpresa de chegar bem na abertura da mostra de cinema Curta Amazônia, onde fiquei orgulhosa de ver a apresentação do boi malhadinho de Guajará Mirim, fiquei pensando como somos lindos, ricos culturalmente, olhando aquela apresentação fiquei pensando, que não queria sair mais daqui da Amazônia, ela me basta, é tanta diversidade cultural por conhecer ainda. Não tive como fotografar a apresentação do boi Malhadinho, mas fotografei a mostra de artes da Maria Luíza, artista plástica, que admiro muito e que faz sua arte inspirada nas visagens da infância e na vivência com a natureza Amazônica e nas imagens que tem das suas intervenções fora da Amazônia. Compartilho aqui apenas duas fotos das que tirei, só para mostrar e atiçar a procurarem conhecer sua arte amazônia que retrata o jacaré de qualquer lago amazônico, a boca que lhe assombrava na mata em sua infância e universal presente nos movimentos dos corpos e vestidos das mulheres pintadas por ela... 


Depois disso, aproveitei  o feriado prolongado e fui para o sítio da minha mãe com o Tanãn, meu irmão, minha cunhada e sobrinha. Lá trabalhei na reconstrução da horta com a mamãe e minha cunhada, e contribui nos afazeres da casa, acompanhei o concerto do galinheiro feito pela mamãe e  Tanãn. Foram dias de trabalho, enquanto meu irmão e o Tanãn saiam para ver se encontravam alguma caça, eu a mamãe, minha cunhada e a filha dela ficávamos em casa cuidando de outros afazeres.

 Também foram dias de muitos sabores preparados pela mamãe. Nada melhor que comer galinha caipira e mingau de banana cumprida com arroz no leite da castanha, mas não era só usufruir dos sabores, tinha também que colaborar, então enquanto eu e a mamãe conversava, nos lembrando das histórias dos antigos também nos ocupávamos em despopar o cupuaçu para depois saborear seu vinho e seu creme. 

Foi renovador para o espirito apreciar as árvores, as flores e ouvir o canto das araras no fim da tarde e admirar a bela lua cheia na noite iluminada por ela. Mas, final de semana tivemos que retornar para a cidade por causa dos compromissos marcados, mas sem antes  parar no caminho para pescar uns peixinhos no rio Jamari e se refrescar em suas águas agitadas. 


E no domingo cantar os parabéns para o padastro que completou mais um ano de vida. Depois de duas semanas intensas agora devo voltar-me para a escrita da tese, pois o tempo está passando... Mas já vou dizendo, que não vou abrir mão disso tudo não. Até mesmo porque essa é uma riqueza que está rodeada de destruição, desmatamento e demais formas de depredação da natureza, e entre a destruição vamos resistindo com nossos cantinhos...







Tanãn e a mamãe pegando terra preta pra refazer a horta.

Os novos frutos do Urucum

preparação do mingau de banana cumprida

A interação da criança com o fazer do alimento tradicional

Tava delicioso o mingau de banana cumprida com arroz no leite da castanha, mamãe fez d jeito que a vovó fazia...






Parada no rio Jamari que antes foi território indígena, depois foi assentamento e depois privatizado na área que tomada pela hidrelétrica de Samuel...





Domingo no Candeias do Jamari - Os parabéns para o Luiz, meu padastro.




Semana de ciências sociais na usp, encontros, debates, vivências entre amigos, amigas e parentes indígenas


Kuekatu reté (muito brigada) ao O Centro Universitário de Pesquisas e Estudos Sociais (CeUPES) “Ísis Dias de Oliveira”, Centro Acadêmico do curso de Ciências Sociais da USP, por ter convidado e viabilizado minha participação na XI Semana de Ciências Sociais da USP, “ XI SeCS”, com o tema “Aprender, questionar, transformar: os caminhos da educação”. Foi um evento muito importante para debater sobre a situação atual da educação no Brasil.
 Na segunda feira eu tive a satisfação de prestigiar e participar do debate da mesa Cotas já! Ocupar resistir e enegrecer: Para além da reparação histórica, a qual foi para além das cotas, Suzani Jardim, estuante de História na USP e militante pró-cotas, uma moça inteligente, lutadora e que fala de forma bem irreverente, sem meias palavras, muito instigante. Falou a partir da sua experiência o que é ser uma aluna negra e o que é fazer ocupação de resistência todos os dias na USP. E a Jupiara Castro, que coordena o Núcleo de Consciência Negra da USP falou do histórico de lutas do movimento negro a nível Nacional e das lutas para manter o Núcleo de consciência negra dentro da USP que em suas palavras ensina muito mais que s conteúdos para o vestibular, mas constrói uma consciência negra para não ser engolido pela USP ao entrar num de seus cursos. 
Na terça feira foi a hora e a vez das vozes indígenas compartilhada com uma pesquisadora que estuda a produção intelectual indígena. As 17:00 hs o lançamento do livro Encontros - Ailton Krenak, organizado por Sergio Cohn e as 19:00 hs foi uma honra está na mesa Indigenização da universidade, junto com Ailton Krenak, Mayara Suni e Talita Dalbó. Ailton Krenak, grande líder político, referência para as novas gerações indígenas, A Mayara que na sua experiência de graduanda de ciências Sociais na UFSCAR já está na frente da organização dos estudantes indígenas e já tem tantas vivências para compartilhar, a Talita Dalbó jovem estudante do doutorado em Antropologia na USP que estuda a intervenção dos intelectuais por meio de suas escritas na academia, atenta as contribuições indígenas e eu ali ouvindo tudo, aprendendo muito e compartilhando vivências. Na quarta feira também assisti a mesa Educação escolar indígena e antropologia da educação, com a Jerá, professora e liderança Guarani, que eu admiro muito por sua força espiritual; Erinilson Manchineri, representante indígena do Acre, estudante na UFSCAR e Jão Lira, liderança Indígena. Cada um apresentou os avanços, os desafios e as contradições da educação escolar indígena de acordo com suas realidades específicas. A programação da XI Semana de Ciências Sociais continuou até sexta feira com a discussão sobre gênero e sexualidade no processo de socialização, os últimos planos nacionais de educação  elaborados, iniciativas populares e comunitárias, entre outros.


Sinceramente a equipe de organização desse evento está de parabéns por ter garantido as vozes dos que vivenciam as problemáticas educacionais, culturais, políticas e sociais no dia a dia e por proporcionar o debate a partir dessas falas.

Apesar de eu ter adoecido na terça feira, dia da minha participação na mesa Indigenização da universidade eu não me deixei esmurecer e me mantive em pé com o carinho e o cuidado da rede de parentes indígenas e amigos e amigas aliadas e aliados da questão indígena que estiveram comigo esses dias e além da participação da semana de ciências sociais teve os momentos de compartilharmos nossas vivências indígenas comendo pirarucu no leite da castanha. Aproveitando a estada em São Paulo, antes de adoecer ainda pude ir no aniversário da Izadora, filha da Cristina, amiga aliada da questão indígena, onde também encontrei Geise, pessoa amiga que conheci por meio das ações indígenas em São Paulo. E ainda pude no sábado, um dia antes da minha volta para casa, mesmo bem ruim com a garganta inflamada tive a alegria de compartilhar algumas vivências amazônicas com a turma de nheegatu 2015, ministrada pelo Antônio.

O reencontro com a Retsitsiwi Renhinõiwe, filha da Silamara Guajajara e Wagner Xavante.
Foi uma semana de dor no corpo, frio de febre, dor de cabeça, mas ao mesmo tempo de alegria em encontrar amigos, amigas, parentes que fazem parte da minha rede de relações em São Paulo que me mantiveram em pé para cumprir com as demandas e para vivenciar grandes experiências...





Autografando o "Espaço lembrado" para a Clara Beatriz, que conheci nas aulas de nheegatu e a seu convite fui para uma roda de conversas sobre cotas e permanência indígena na USP

Minha amiga e parenta Guajajara com quem compartilho em São Paulo, cantos, danças e pinturas indígenas, ela se tornou uma irmã... 

A presença do Aly amigo de Porto Velho que faz parte da colônia de estudantes em São Paulo.

Encontro entre parentes





compartilhando o pirarucu no leite da castanha (sabor amazônico)