sexta-feira, 23 de junho de 2017

Após o doutorado

Foto - Iremar Antônio Ferreira


Foram quatro anos de muita aprendizagem. Durante o doutorado fui aos poucos inscrevendo-me como portadora de tradições, ao me colocar a ouvir, a reviver e a aprender mais sobre as tradições que faço parte. Minha mãe Nilse foi fundamental no restabelecimento das nossas redes de parentescos entre o espaço do seringal e as aldeias. Também fui reconhecida pelos Mura do Itaparnã como parte do Povo, tive a oportunidade de fazer parte de rodas de conversas com as lideranças Mura das retomadas de Manicoré a Humaitá. Fui recebida junto com minha mãe na terra Indígena dos Parintintin como parenta, por a mãe da cacica ter sido criada pela família da minha bisa avó e  por terem parentescos de afinidade e sanguíneo. Fui bem recebida pela parentada das comunidades dos antigos seringais, vivenciei tudo intensamente nas comunidades. Na academia, coloquei os saberes tradicionais em diálogo de igual para igual com os saberes acadêmicos. Demarquei junto com a rede indígena da qual fiz parte junto com meus filhos, espaços, lugares na USP. Tudo isso, resultou na minha tese. 
Faz um ano que defendi o doutorado que foi comemorado com grande ritual indígena. Minha defesa tornou-se um ato de ocupação indígena na USP. Faz um ano também que estou morando na comunidade de Nazaré e trabalhando na escola estadual da comunidade, onde me proponho a fazer uma intervenção de descolonização pelas brechas da educação institucionalizada. Nesse um ano recebi visitas de amigas, amigos, parentes indígenas para somar com essa luta pela descolonização da educação escolar.
foto Marília
foto Marília
No primeiro ano recebi a visita de Marília, uma jovem que é uma grande aliada da causa indígena, a conheci na USP, onde ela faz graduação em história. A Marília me acompanhou em sala de aula e registrou alguns resultados dos trabalhos que estava fazendo com as alunas e alunos sobre os momes dos peixes e das frutas que nomeamos em Tupi e algumas representações de cartografias de memória, feitas no começo da minha entrada na escola em junho de 2016.
foto - Márcia Mura
foto - Márcia Mura
 A Marília além de me acompanhar em sala de aula no mês de julho durante sua estada, vivenciou experiências na comunidade que a fez perceber os modos de ser indígenas presentes nos modos de vida tradicionais como o que ele participou com meus sobrinhos, a pesca e o assado na beira do igarapé, peixe fresquinho com sal e farinha.



foto - Márcia Mura

 
 Ainda em 2016 no mês de agosto recebi a visita do meu amigo e parente indígena Edgar Calel  do Povo Indígena Maia do clã Kaquitikel. Grande sábio e artista plástico. Durante sua estada na comunidade fez várias pinturas com paisagens da comunidade e da sua comunidade e das suas reflexões sobre a descolonização e filosofias ancestrais de seu povo usando tinta natural de barro.

foto - Márcia Mura


 Além disso, contribuiu com palestra na escola sobre os conhecimentos do seu povo e também fez uma vivência indígena junto com Tanan Mura e Iremar Antônio Ferreira compartilhada entre os alunos , alunas e demais pessoas interessadas.


foto - Márcia Mura
Ainda nesse período Deise Lemos e Lucas Mura, ela em processo de afirmação indígena e recém formada em arqueologia, ele, meu filho e  ingressante no curso de arqueologia em 2017 na UNIR, estiveram comigo também nas vivências indígenas na escola estadual em Nazaré.
Foto - Nina.
Foto Deise Lemos
 Houve ainda em Dezembro de 2017 o encontro de saberes e sabores coordenado por mim e por meu primo Timaia onde as alunas e alunos compartilharam alimentos e remédios tradicionais e demais saberes milenares passados de geração a geração. Tudo foi bonito, mas destaco aqui a participação do Tanan Maciel, meu filho que estava concluindo o 3º ano e das minhas sobrinhas Erica e Eliene, que são alunas da escola, falando sobre suas afirmações indígenas. Fiquei muito orgulhosa dele e delas.

Em 2017 a vinda de colabores continua. No final de Maio chegou a parenta manauara Dheik para somar com produção cinematográfica com o 8ºAno B, turma que se colocou em fazer a vivência. E na semana do meio ambiente, coordenada pelo professor Aldimar, a Aline arqueogeóloga do Museu de Memórias de Rondônia também de forma colaborativa contribuiu com uma conversa com os alunos e alunas da escola sobre os patrimônios culturais a partir da visão da comunidade do que ela elege e não o pesquisador de fora. Estamos abertos a vivências mesmo que elas aconteçam nas brechas da educação institucionalizada.
foto - Márcia Mura

foto - Márcia Mura

Foto - Dheike Praia

2 comentários:

  1. Parabéns Márcia, e o obrigada por compartilhar conosco suas experiências. Você é um incentivo no resgate da nossa cultura.

    ResponderExcluir