domingo, 5 de fevereiro de 2012

Triste, triste, muito triste...

 Casas condenadas
 desmontadas
 Seus donos foram obrigados a abandonar suas casas para salvar suas vidas físicas, mas deixam sua história, seu canto, suas plantas, seu espaço afetivo para trás.
 pedaços deixados para trás
 desmoronamentos de vidas
 moradora indignada pede providência das autoridades
 Vidas empacotadas
 deslocamentos forçados
 movimentos de carros de mudanças no bairro
 Caminhões à espera de mudanças
 No silêncio de suas casas ameaçadas embalam suas vidas, muitos estão desnorteados sem acreditar que tudo isso está acontecendo. 

Hoje depois do programa: Vozes da Amazônia, eu e Iremar fomos ver de perto a situação de calamidade vivida por familias no bairro Triângulo, um bairro histórico da cidade de Porto Velho formado por ex trabalhadores da Ferrovia Madeira Mamoré, os Barbadianos, composto por diferentes famílias que matem a identidade e religiosidade de suas tradições e por familias ribeirinhas que viviam em espaços de seringais que se deslocaram para a cidade na decada de 60 após a decadência da borracha. Esse bairro atravessado pela estrada de ferro e as margens do rio madeira está condenado a ter grande parte dele desmoronada. Ao caminhar pelos trilhos da ferrovia nos deparamos com casas desocupadas, marcadas com um X vermelho como sinal da sua condenação ao desaparecimento. Seus moradores foram levados para hotéis, suas coisas para um depósito, os gatos, os cachorros, as galinhas, os pintinhos foram deixados. Ainda há algumas famílias empacotando a mudança, do outro lado dos trilhos os moradores estão inseguros, não sabem se suas casas também serão comprometidas. Ao caminhar em frente as casas percebíamos a preocupação das famílias, as conversas eram sobre a tristeza de ver seus vizinhos sendo obrigados a saírem de suas casas, as imagens das casas penduradas no barranco nos choca, o olhar das pessoas é de tristeza, desconçolo, alguns nos comprimentam e dizem: "que triste né?" É só isso que conseguimos sentir tristeza, indignação. Para mim que nasci naquele bairro, andei por aqueles lugares, corri e pulei nos trilhos, conheci pessoas, fiquei com o choro entalado na garganta... Tenho chorado com todas essas cenas desde quando nossos amigos ribeirinhos do outro lado rio Madeira tiveram suas casas derrubadas pela empresa hidrelétrica, mas apesar da dor compartilhada com quem está vivendo esse pesadelo real, eu sei que  a dor deles é maior, quem tem sentido mais são os idosos. Uma senhora nos disse que nem dorme mais com tanto medo de desmoronar tudo, outra enquanto arruma suas coisas para ser retirada da sua casa desabafa sua angustia por estar saindo de sua casa que construiu com sacrificios e agora sair sem nenhuma garantia de ter outra casa que corresponda a sua. Diante de tantas perdas os moradores pedem providências do ministério público federal.

Um comentário:

  1. Márcia expressa nestas imagens e texto um retrato desta ampla, dura e crua realidade: "o que vamos fazer, temos que sair, é pra nossa segurança... mas num sei pra onde vamos e como vai ficar nossa situação, porque só falaram pra gente sair e não recebemos nenhum papel das empresas dizendo nada de indenização..." - por meio destas falas, desabafos premeia incertezas de tantas marias... Triângulo, que antes o que tinha de melhor era seu povo e sua história, agora começa 2012 engolido aos poucos pelas águas turvas do rio Madeira... tristeza, indignação, esperança... são expressões que se perdem em cada barranco caindo, cada vida enterrompida, cada família e vizinho separados... Estou indignado!!!

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