quarta-feira, 30 de setembro de 2020

O apoio do projeto aprovadao pelo Fundo Sócio Ambiental Casa para o enfrentamento ao COVID19 pelos Mura de diferentes contextos e o protagonismo do coletivo Mura de Porto Velho



Coletivo Mura de Porto Velho

Antes da pandemia do Covid19 havíamos enviado um projeto para um edital do Fundo Social Casa para o fortalecimento da afirmação Mura em Porto Velho e nas comunidades ribeirinhas, onde os modos de ser indígena se mantém por famílias Mura e de outras etnias. Bem no começo de Fevereiro/2020, recebemos a notícia de que havia sido aprovado, mas teríamos que deixar passar a pandemia para executá-lo. Com o correr de dois meses recebemos a proposta de fazermos a readaptação para ações de enfrentamento ao COVID19, passei a proposta para o coletivo Mura e foi aceita de imediato. Já havíamos iniciado a campanha de apoio aos Mura em diferentes contextos na Amazônia, e, por esse motivo, já havíamos estabelecido contatos com lideranças Mura de Autazes, Borba e  Itaparanã,  o que facilitou identificarmos as emergências de mais longe, tendo em vista que as de Nazaré, Porto Velho e Candeias do Jamari já sabíamos.

Esse projeto foi de fundamental importância, pois possibilitou o fortalecimento do protagonismo do coletivo Mura de Porto Velho e das lideranças, homens e mulheres das comunidades contempladas. Além disso, possibilitou que chegasse ajuda a comunidades que não estavam recebendo nenhum apoio governamental. 

Barreira/Autazes

Em Autazes guerreiros Mura que estavam fazendo barreira na rodovia que liga Manaus a Autazes com seus próprios corpos e espíritos tiveram apoio para adquirir álcool em gel, máscaras, combustível para deslocamentos da aldeia até a barreira e alimentos. 






Zenilto Mura/Botba/AM

Em Borba famílias Mura receberam cestas básicas, alcool em gel e produtos de limpezas e máscaras (complementadas com recursos da campanha feito pelo Coletivo Mura)




Coletivo Mura na Terra Indígena Itaparanã

No Itaparanã depois de anos esperando que a SESAI garantisse água potável na aldeia com poço profundo (artesiano) enfim com o apoio do FUNDO SOCIAL CASA conseguiram garantir essa demanda, além de adquirirem material para confeccionar máscaras e aquisição de matérias e equipamentos para construção de casas longe da estrada, ( ação ainda em andamento) e demais produtos previstos no projeto. 

Em Manaus repassamos recursos para uma liderança

Mulher que fez as compras de cestas básicas, produtos de limpeza e higiene e distribuiu entre famílias Mura que vivem na aldeia urbana "Território das Tribus"




Em Nazaré o coletivo Mura o coletivo Mura de Porto Velho enviou cestas básicas e produtos de limpeza. Em Porto Velho entregamos cestas básicas e produtos de limpeza para famílias Mura.

Nazaré

Ressaltamos que o projeto além de possibilitar que famílias Mura de diferentes contextos que são subnotificadas pela FUNAI e SESAI, pudessem ser apoiadas, também possibilitou o fortalecimento da rede Mura na Amazônia.





APOIO ÀS BARREIRAS EM AUTAZES/AM








Autazes/AM

  





EPEIS PARA EQUIPE DE SAÚDE DO POLO PANTALEÃO -AUTAZES/AM


foi repassado recurso do projeto para equipe de Saúde Indígena do polo Pantaleão/Autazes/AM/para compra de EPIS
A chegada de EPIS no polo Pantaleão


   


APOIO ÁS FAMÌLIAS MURA/ALDEIA URBANA -TERRITÒRIO DAS TROBUS/MANAUS/AM

(alguns registros, pois houve perda de imagens enviadas por Maira Belo, devido a um problema no meu celular)
















AQUISIÇÕES FEITAS COM RECURSO DO PROJETO FUNDO SÓCIO AMBIENTAL CASA EM BORBA/AM PARA FAMÍLIAS MURA







CESTAS BÁSICAS ENVIADAS Á NAZARÉ










ENTREGAS FEITAS PARA FAMÌLIAS MURA DE PORTO VELHO 














 Coordenadores do projeto (Iremar e Márcia Mura)




ENTREGAS FEITAS Á FAMÍLIAS MURA EM CANDEIAS DO JAMARÍ













PERFURAÇÃO DO POÇO PROFUNDO NA TERRA INDÍGENA MURA/ITAPARANÃ/AM



















NEMEGUERE!




sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Entre Rondônia e Mato Grosso: Rastros de destruição

Desde que passei a viver com Iremar, pai dos meus filhos passei a fazer o percurso de Porto Velho á Juína no Mato Grosso, nos finais de ano, para visitar a família dele. Desde a primeira vez foi um grande desafio, pois antes de ter veículo próprio íamos e voltávamos de ônibus. Na primeira viagem que fiz pra lá, foi para ser apresentada a família dele e apresentar nosso primeiro filho, Lucas Mura, isso foi em 1994. Nesse tempo o trecho da estrada (rodovia 175) que liga Vilhena (RO) à Juína (MT), era muito mais arenosa do que agora e também tinha mais vegetação natural formada pela transição de cerrado e floresta. No meio da viagem de ida tinha um quiosquinho que o ônibus parava, onde vendiam aqueles salgados fritos cheios de óleo, dentre eles, aquela cocha de frango com uma cobertura frita. Nesse lugar tinha uma roda d´água. Agora nesse lugar, tem uma maloca dos parentes Enawenê-Nawê, pois lá é território deles e eles conseguiram retomar essa parte. 

Nessa primeira viagem de 1994 na volta à noite, o ônibus parou num ponto de parada que ficava longe de Juína e longe de Vilhena e na saída um senhor que desceu do ônibus dizendo que ia beber uma água e uma pinga não embarcou mais; escutamos só o grito dele pedindo socorro, o ônibus jogou luz para o meio da estrada e o vimos jogado numa vala e um homem ao lado apontando o revolver para ele. Começou uma gritaria dentro do ônibus dizendo para o motorista ir embora, mas ele insistia em esperar, nisso veio outro homem armado e colocou o revolver pela janela do motorista e disse para ele ir embora. Depois disso seguimos viagem na escuridão, provavelmente o senhor que ficou para trás deve ter perdido a vida, tudo indica que foi um acerto de conta, pois ali é região de garimpo.

De 94 pra cá já fizemos muito esse trecho e cada ano percebemos o aumento da devastação. Dessa vez, depois de seis anos sem fazer esse percurso, tivemos que fazê-lo em plena pandemia no mês de Agosto de 2020, para cuidar da minha sogra e sogro em tratamento de saúde. Na ida fomos percebendo as devastações não só desse trecho, mas também às margens da BR 364. Vimos acidentes com vítima humana e ao longo da viagem diversos cadáveres de animais que foram atropelados e também muito desmatamento dando lugar para soja e outras monoculturas. 

Somente na volta fizemos alguns registros de uma paisagem devastada e ilhas de florestas desconectadas e sem vida, começos de queimadas e no meio de tudo isso os parentes Enawenê-Nawê e os Nabikwara que estão naquelas proximidades. 

Era para eu ter feito essa postagem a mais tempo. Mas, na volta para casa haviam muitas demandas acumuladas no nosso trabalho de apoio aos parentes e nos cuidados do nosso filho que estava com COVID19 e depois eu e meu companheiro que também fomos positivados. Agora também minha mãe está com Covid19. A luta só aumenta, então resolvi fazer logo essa partilha diante de tanta tragédia que vem se dando com as queimadas que já estavam acontecendo quando estávamos em Juína, o que dava para perceber, por causa do céu o tempo todo encoberto com muita fumaça.

Esses dias tenho visto nas mídias alternativas parentes indígenas em toda parte da Amazônia e outros lugares da nossa casa comum Abya Yala, nosso território ancestral, Pindorama - Terra de muitas palmeiras, enfrentando por conta própria o fogo que está comendo tudo.  Resolvi compartilhar esse registros desse trecho que passamos, depois que já estávamos em Porto Velho e soubemos de uma queimada em Vilhena que durou uma semana. Felizmente, temos alguns aliados, mas, os invasores, os destruidores da Mãe Terra estão avançando com respaldo de uma política genocida em curso. Dói muito ver nosso mundo sendo destruído, mas vamos continuar resistindo.

Faço essa postagem para somar com os parentes, que estão enfrentando com todas as suas forças o fogo que avança em seus territórios para salvar os animais, ás árvores, os frutos, nossas vidas. 

Vejo o fogo lá fora e me desespero aqui dentro da Maloca Querida atingida pelo COVID19, mas resistindo, fazendo ecoar nossos gritos para onde possam ser ouvidos.


                                          Derrubam a vegetação natural e plantam eucalipto.

Algodão nas proximidades da terra indígena dos Nambikwara


Maloca dos parentes Enawenê Nawê. Esse é um ponto onde eles cobram pedágio, como uma forma de compensação pela estrada que rasga ao meio o seu território. Na ida ao vermos o parente que recebe o valor do pedágio, sem máscara, deixamos com ele umas máscaras descartáveis e explicamos a ele a importância de usá-las. 



Na volta entregamos a eles umas máscaras que compramos em Juína, com a preocupação de que se protejam. Falamos para ele que somos do Povo Mura de Porto Velho, perguntamos se havia casos de COVID19 entre eles, ele disse que não, mas não sabemos como está o acompanhamento deles pela Secretária Especial de Saúde Indígena\SESAI.




Muita fumaça no horizonte.
Fogo chegando na estrada. Isso foi na volta dia 23 de agosto de 2020.






   
Além dessa Anta/Tapira - Passamos por mais de cinco capivaras, um tatu e uma raposa morta na estrada; não tinha como pararmos para fazer todos os registros.  
                       


Agora com o aumento das queimadas o números de animais mortos também aumentaram. 


 

Muito triste ver essa Tapira se diluindo no asfalto. Antes das queimadas esses animais já estavam saindo dos locais de desmatamento para ir para outras áreas em busca de alimento e na travessia da BR acabam morrendo atropelados. A vida deles é a nossa vida! Em todo percurso vimos um tatu vivo andando ás margens da BR indo para um campo de plantação de soja.

Nos ajudem a salvar a Amazônia! 

Ela é nossa vida!


 

  Créditos das fotos: Tanã Mura

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

É Urgente o apoio aos Warau

 


O Povo Indígena Warao é oriundo da Venezuela. A crise econômica e social causada pelo bloqueio dos Estados Unidos, tem levado milhares de venezuelanos à migrarem a outros países para garantirem suas vidas e de suas famílias. Dentre estes, está o Povo Indígena Warao, que estão sobrevivendo em diferentes cidades e capitais do Brasil. 

Nós do Coletivo Mura de Porto Velho, em parceria com o Instituto Madeira Vivo, estamos por meio da arrecadação de doações, colaborando na mediação da comunicação (português\castelhano), para assegurar a garantia de direitos à assistência social, atendimento de saúde e apoios no que se é possível fazer. Compartilhamos aqui uma descrição da situação que os parentes se encontram e algumas imagens:


Os Warao vivem em situação de extrema vulnerabilidade. Além da pandemia de Covid 19, estão enfrentando uma epidemia de tuberculose. Num grupo de 110 pessoas, temos já identificados com tuberculose cerca de umas 10 pessoas contaminadas e como vivem em duas pensões na cidade de Porto Velho, em péssimas condições sanitárias e com estrutura também comprometida, correm o risco de aumentar o número dos contaminados. Já mobilizamos a Assistência Social para que estes mobilizem a Secretaria Municipal de Saúde, para que façam testes rápidos tanto para Covid quanto para tuberculose.
No dia de hoje temos duas parentas internadas na rede pública de saúde. Uma já idosa está com quadro gravíssimo, provocado pelas consequências do Covid que ela pegou em março, está na UTI e sem melhoras no quadro clínico. Já uma jovem mamãe de 22 anos tem melhoras em seu quadro, mas ambas enfrentam problemas com tuberculose, além de uma bebê de 3 meses com o mesmo quadro.
É urgente termos apoio para que eles possam buscar uma pensão (moradia), que ofereça melhores condições de vida para elas e eles, pois do contrário, não vão conseguir melhorar seu quadro ao regressar e ainda contaminar os demais.
Como sobrevivem pedindo pelas ruas, colocando em risco suas vidas e de seus filhos, pois não encontram trabalho nesta cidade, seja pela ausência de empregos pela crise política e econômica, seja pela discriminação, dificuldade de linguagem, entre outros.
Eles dependem de doações de cestas básicas, nossa do Coletivo Mura; da  Cáritas Diocesana de Porto Velho e de voluntários. O poder público fica preso ao auxílio emergencial, mas, a maior parte deles não tem acesso ainda devido a documentos vencidos, perdidos e entre outros fatores.
Garantir moradia e alimentação para estas 110 pessoas é um grande desafio, mas também um gesto humanitário para estes que tiveram que sair de seu território na Venezuela, devido às privações e ausências do Estado, claro que fortalecido pelo bloqueio econômico imposto pelos EUA.



Nós estamos buscando projetinhos emergenciais para além de ajudá-los com moradia e alimentos, também com atividade de geração de renda, pois são exímios trabalhadores nos produtos culturais em palha de buriti entre outras modalidades artesanais, para que possam gerar renda e autoestima.
Nós do Coletivo Mura estamos dividindo o pouco que tem chegado por meio da nossa campanha, que se torna muito na partilha com quem precisa. Todas e todos estão convidadas e convidados a somar conosco.




Kuekatu reté!