O termo
Vadia é polêmico e algumas mulheres não se sentem contemplado por ele, enquanto
conceito de protesto, isso porque historicamente o termo vadia tem sido
naturalizado socialmente como um termo pejorativo dado as mulheres. Considerando diferentes contextos históricos e culturais é possível entender
que há alguns limites para a sua desconstrução social. No caso das mulheres
Negras Americanas de descendência africana, ativistas na luta anti-violência,
elas não se sentiram contempladas pela Marcha das Vadias, embora reconheçam e
parabenizem a ousadia das mulheres brasileiras que reagiram aos comentários do
policial de Toronto, que culpalizou as mulheres por serem estupradas, mas para
elas, diante do seu contexto histórico em que foram percebidas e o que acontece
com elas antes, durante e após o assédio sexual, a questão vai além de um
protesto contra a crimilização do modo de se vestir. Na carta[1] que
elas fizeram para as mulheres que organizaram a marcha no Brasil elas declaram:
... “Vai além das barreiras do modo como nos vestimos. Muito disso é ligado a
nossa história em particular. Nos Estados Unidos onde a escravidão construiu a
sexualidade da mulher Negra, sequestros de crianças negras para serem vendidas
como escravas, estupros e enforcamentos, representações de gênero incorretas, e
mais recentemente, a luta das mulheres Negras imigrantes, “vadia” tem
diferentes associações para mulheres Negras”. Nós brasileiras temos que considerar o contexto histórico das Mulheres Negras Americanas, assim como os diferentes contextos históricos culturais de coletividades de mulheres no nosso próprio país. Assim como
as mulheres Negras Americanas não se identificaram com a Marcha das vadias,
algumas mulheres brasileiras também não se identificaram, mas no Brasil ainda
precisa haver um debate mais abrangente entre mulheres de diferentes contextos
culturais e históricos, para saber como se sentem diante do termo, até o
momento nas justificativas das que não se identificam com o termo “Vadia”
predomina uma noção de falsa moral social, no entanto, há que se considerar os
diferentes contextos culturais. Há que se considerar também que as questões
levadas as Marchas das Vadias realizada no Brasil até então, a questão não se
restringe apenas aos discursos moralistas-machistas voltados para os modos da
mulher se vestir, é muito mais ampla, as mulheres estão lutando por seus
direitos como um todo. No que diz respeito a Rondônia temos diferentes
representações de mulheres em diferentes contextos culturais e históricos
também: Indígenas, extrativistas, agricultoras e as várias categorias do espaço
urbano. Levando em conta as diferenças, sabemos que historicamente as indígenas
desde a colonização no Brasil foram arrancadas a força de seus povos para serem
vendidas e para se tornarem esposas dos homens não indígenas. Na Amazônia há a
especificidade histórica dos raptos de mulheres indígenas para serem esposas
dos homens dos seringais, há ainda também o rótulo pejorativo da mulher da
Amazônia como exotismo sexual, construído historicamente. Nesse contexto, temos
que considerar que, embora haja violência contra as mulheres tanto no espaço
rural como no espaço urbano, não podemos universalizar a maneira de como se constitui
a mulher nas diferentes culturas.
Em Rondônia,
a Marcha das Vadias tem como eixo de discussão toda violência causada às
mulheres, as simbólicas e as físicas. Dando destaque as violências causadas no
contexto da construção das hidrelétricas no rio Madeira. E nesse contexto, as
mulheres indígenas, as extrativistas, agricultoras e as urbanas, são muito mais
que afetadas, eu diria desmoronadas. Basta conhecer as realidades das
comunidades indígenas, extrativistas e as diferentes comunidades rurais, para perceber
esse desmoronamento das vidas que afetam diretamente as mulheres, muitas delas
perderam suas filhas para o mercado de exploração sexual em torno das
hidrelétricas, ainda hoje há mães se lamentado porque suas filhas estão
abandonado suas casas para virem para a cidade e acabam por serem utilizadas no
mercado do sexo.
Há casos de
tráfico de mulheres facilitado pela Trans Oceânica – (Peru-Brasil) que foi
apresentado no fórum da Pan Amazônia, realizado em novembro de 2012 em Cobija,
há casos de tráficos de mulheres indígenas que chegou a sair nos jornais locais
no inicio das obras de hidrelétricas, há casos camuflados de meninas bolivianas
exploradas sexualmente nos estabelecimentos de comercialização do sexo, no
entorno do canteiro de obras de jirau. E para quem acompanhou as notícias ou
mesmo vivenciou o bum das hidrelétricas em Porto Velho, sabe do alto índice de
exploração sexual infantil e o assédio às mulheres nos espaços públicos, como
praças e ruas, o aumento de estupros no campo e na cidade. Além disso, há a
exploração da mão de obra feminina que é inferiorizada nos canteiros de obras.
A
expropriação das mulheres que habitavam as margens do rio Madeira e foram
jogadas às margens sociais, não pode deixar de ser mencionada. Nesse, sentido,
em Rondônia resolvemos peitar o moralismo social e realizar a marcha das
vadias, entendendo o termo como um contra discurso da naturalização da mulher
pela sociedade, que estabelece como devemos nos comportar e rotulam de “vadias”
as mulheres que rompem de alguma forma os padrões estabelecidos socialmente. A
adoção do termo em si já é ir à contra mão desses discursos que criminalizam a
mulher por ser violentada, colocando-as como causadoras da agressão sofrida.
*escrito por mim.
[1] Uma carta aberta de mulheres Negras para a Marcha das
Vadias encontra-se
no seguinte endereço eletrônico: http://www.feminismo.org.br/livre/index.php?option=com_content&view=article&id=99995216:uma-carta-aberta-de-mulheres-negras-para-a-marcha-das-vadias&catid=99:opiniao-e-analise&Itemid=620
O termo
Vadia é polêmico e algumas mulheres não se sentem contemplado por ele, enquanto
conceito de protesto, isso porque historicamente o termo vadia tem sido
naturalizado socialmente como um termo pejorativo dado as mulheres. Considerando diferentes contextos históricos e culturais é possível entender
que há alguns limites para a sua desconstrução social. No caso das mulheres
Negras Americanas de descendência africana, ativistas na luta anti-violência,
elas não se sentiram contempladas pela Marcha das Vadias, embora reconheçam e
parabenizem a ousadia das mulheres brasileiras que reagiram aos comentários do
policial de Toronto, que culpalizou as mulheres por serem estupradas, mas para
elas, diante do seu contexto histórico em que foram percebidas e o que acontece
com elas antes, durante e após o assédio sexual, a questão vai além de um
protesto contra a crimilização do modo de se vestir. Na carta[1] que
elas fizeram para as mulheres que organizaram a marcha no Brasil elas declaram:
... “Vai além das barreiras do modo como nos vestimos. Muito disso é ligado a
nossa história em particular. Nos Estados Unidos onde a escravidão construiu a
sexualidade da mulher Negra, sequestros de crianças negras para serem vendidas
como escravas, estupros e enforcamentos, representações de gênero incorretas, e
mais recentemente, a luta das mulheres Negras imigrantes, “vadia” tem
diferentes associações para mulheres Negras”. Nós brasileiras temos que considerar o contexto histórico das Mulheres Negras Americanas, assim como os diferentes contextos históricos culturais de coletividades de mulheres no nosso próprio país. Assim como
as mulheres Negras Americanas não se identificaram com a Marcha das vadias,
algumas mulheres brasileiras também não se identificaram, mas no Brasil ainda
precisa haver um debate mais abrangente entre mulheres de diferentes contextos
culturais e históricos, para saber como se sentem diante do termo, até o
momento nas justificativas das que não se identificam com o termo “Vadia”
predomina uma noção de falsa moral social, no entanto, há que se considerar os
diferentes contextos culturais. Há que se considerar também que as questões
levadas as Marchas das Vadias realizada no Brasil até então, a questão não se
restringe apenas aos discursos moralistas-machistas voltados para os modos da
mulher se vestir, é muito mais ampla, as mulheres estão lutando por seus
direitos como um todo. No que diz respeito a Rondônia temos diferentes
representações de mulheres em diferentes contextos culturais e históricos
também: Indígenas, extrativistas, agricultoras e as várias categorias do espaço
urbano. Levando em conta as diferenças, sabemos que historicamente as indígenas
desde a colonização no Brasil foram arrancadas a força de seus povos para serem
vendidas e para se tornarem esposas dos homens não indígenas. Na Amazônia há a
especificidade histórica dos raptos de mulheres indígenas para serem esposas
dos homens dos seringais, há ainda também o rótulo pejorativo da mulher da
Amazônia como exotismo sexual, construído historicamente. Nesse contexto, temos
que considerar que, embora haja violência contra as mulheres tanto no espaço
rural como no espaço urbano, não podemos universalizar a maneira de como se constitui
a mulher nas diferentes culturas.
Em Rondônia,
a Marcha das Vadias tem como eixo de discussão toda violência causada às
mulheres, as simbólicas e as físicas. Dando destaque as violências causadas no
contexto da construção das hidrelétricas no rio Madeira. E nesse contexto, as
mulheres indígenas, as extrativistas, agricultoras e as urbanas, são muito mais
que afetadas, eu diria desmoronadas. Basta conhecer as realidades das
comunidades indígenas, extrativistas e as diferentes comunidades rurais, para perceber
esse desmoronamento das vidas que afetam diretamente as mulheres, muitas delas
perderam suas filhas para o mercado de exploração sexual em torno das
hidrelétricas, ainda hoje há mães se lamentado porque suas filhas estão
abandonado suas casas para virem para a cidade e acabam por serem utilizadas no
mercado do sexo.
Há casos de
tráfico de mulheres facilitado pela Trans Oceânica – (Peru-Brasil) que foi
apresentado no fórum da Pan Amazônia, realizado em novembro de 2012 em Cobija,
há casos de tráficos de mulheres indígenas que chegou a sair nos jornais locais
no inicio das obras de hidrelétricas, há casos camuflados de meninas bolivianas
exploradas sexualmente nos estabelecimentos de comercialização do sexo, no
entorno do canteiro de obras de jirau. E para quem acompanhou as notícias ou
mesmo vivenciou o bum das hidrelétricas em Porto Velho, sabe do alto índice de
exploração sexual infantil e o assédio às mulheres nos espaços públicos, como
praças e ruas, o aumento de estupros no campo e na cidade. Além disso, há a
exploração da mão de obra feminina que é inferiorizada nos canteiros de obras.
A
expropriação das mulheres que habitavam as margens do rio Madeira e foram
jogadas às margens sociais, não pode deixar de ser mencionada. Nesse, sentido,
em Rondônia resolvemos peitar o moralismo social e realizar a marcha das
vadias, entendendo o termo como um contra discurso da naturalização da mulher
pela sociedade, que estabelece como devemos nos comportar e rotulam de “vadias”
as mulheres que rompem de alguma forma os padrões estabelecidos socialmente. A
adoção do termo em si já é ir à contra mão desses discursos que criminalizam a
mulher por ser violentada, colocando-as como causadoras da agressão sofrida.
*escrito por mim.
[1] Uma carta aberta de mulheres Negras para a Marcha das
Vadias encontra-se
no seguinte endereço eletrônico: http://www.feminismo.org.br/livre/index.php?option=com_content&view=article&id=99995216:uma-carta-aberta-de-mulheres-negras-para-a-marcha-das-vadias&catid=99:opiniao-e-analise&Itemid=620
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