Passei o ano inteiro vivenciando experiências nos espaços às margens dos rios e lagos que foram antigos territórios de perambulação indígena que se tornaram espaços de seringais e que atualmente é um espaço formado por uma população que mantém tradições e ao mesmo tempo fazem uso de tecnologias do mundo moderno. Também vivenciei experiências com os parentes indígenas que na resistência constante mantém suas línguas maternas e sua cultura e com aqueles que estão em processo de retomada territorial e em fase de reafirmação identitária.
2013 foi um ano em que andei muito de barco e interagi com as redes de relações dos espaços de vida às margens dos rios e lagos, tomei muito banho nas águas amazônicas, comi moquém de caça e peixe, frutas e tomei vinhos das frutas, como o do açaí e da abacaba, experimentei a coleta e a quebra da castanha que foi mágica e ao mesmo tempo um trabalho duro, também fui para o trabalho coletivo no roçado – puxirum, participei das festas de santos que para além da interferência da tradição cristã e muito mais ritual de rememoração dos antepassados e nos territórios indígenas as festas tradicionais, a relação de parentesco afetivo, as festividades e as lutas indígenas. Vivenciei intensamente a Amazônia que luto para continuar existindo e fui para a atuação política na denúncia das ameaças e destruições causadas por projetos desenvolvimentistas do governo federal.
2013
terminou com muita injustiça causada aos Povos indígenas e dentre elas as
violências simbólicas e as mais concretas contra os parentes Tenharim na cidade
de Humaitá e no seu território. Terminei esse ano com o nó na garganta, com
choro engolido por ver mais uma vez a violência do etnocentrismo sobre os
indígenas. Até quando vai ser assim: os territórios indígenas são invadidos e
os indígenas resistindo apesar dos genocídios e toda a tensão da relação interétnica entre não indígena e não indígena onde apenas o indígena é condenado e visto
como o selvagem??? Penso que sempre,
pois vamos continuar lutando por nossa existência, pelos territórios, sem
território não tem tradição cultural.
O
grande desafio que se coloca nesse 2014 é não ceder às pressões capitalistas e
etnocêntricas é manter a resistência é fazer uso das articulações políticas
para fortalecer a resistência. Nesse ano de 2014 vou ficar longe de tudo que me
renova para a luta para a vida, vou ficar longe das águas, das matas, dos
parentes dos espaços de seringais e dos territórios indígenas, mas vou ser
forte na selva de pedras (São Paulo) me aliar aos indígenas e não indígenas que
fazem uso do espaço da academia para fortalecer a defesa dos territórios dessas
populações. Vou me manter na luta sempre!!!!! Vou ser forte como meus parentes
indígenas.