2013
terminou de forma trágica com os conflitos interétnicos entre não indígenas e
indígenas. Durante todo o ano houve conflitos de disputas territoriais entre
madeireiros, latifundiários, frentes do agronegotóxico, projetos de mortes do
governo federal, como hidroelétricas, rodovias, dentre outros projetos que
estão interligados a expansão da exploração capitalista que passa por cima de
territórios tradicionais de povos indígenas, extrativistas, quilombos e demais
comunidades tradicionais. Esses projetos desrespeitam os modos de vida dessas
populações, destroem seus espaços de ocupação tradicional onde significam suas
vidas que correspondem aos espaços dos roçados, dos cemitérios, das coletas,
das caças, das pescas, das festas.
A
intervenção de projetos desenvolvimentistas que desconsideram os modos de vida
das comunidades modifica toda a configuração cultural dessas comunidades,
porque muda tudo, a cheia e a seca dos rios e igarapés mudam de período, essas
alterações interferem no modo em que essas comunidades marcam sua
temporalidade, além da contaminação de água, a chegada de muita gente de fora,
que trás junto outros problemas sociais, como modificação nas relações
estabelecidas na comunidade.
Passei o ano inteiro vivenciando experiências nos espaços às margens dos rios e lagos que foram antigos territórios de perambulação indígena que se tornaram espaços de seringais e que atualmente é um espaço formado por uma população que mantém tradições e ao mesmo tempo fazem uso de tecnologias do mundo moderno. Também vivenciei experiências com os parentes indígenas que na resistência constante mantém suas línguas maternas e sua cultura e com aqueles que estão em processo de retomada territorial e em fase de reafirmação identitária.
2013 foi um ano em que andei muito de barco e interagi com as redes de relações dos espaços de vida às margens dos rios e lagos, tomei muito banho nas águas amazônicas, comi moquém de caça e peixe, frutas e tomei vinhos das frutas, como o do açaí e da abacaba, experimentei a coleta e a quebra da castanha que foi mágica e ao mesmo tempo um trabalho duro, também fui para o trabalho coletivo no roçado – puxirum, participei das festas de santos que para além da interferência da tradição cristã e muito mais ritual de rememoração dos antepassados e nos territórios indígenas as festas tradicionais, a relação de parentesco afetivo, as festividades e as lutas indígenas. Vivenciei intensamente a Amazônia que luto para continuar existindo e fui para a atuação política na denúncia das ameaças e destruições causadas por projetos desenvolvimentistas do governo federal.
2013
terminou com muita injustiça causada aos Povos indígenas e dentre elas as
violências simbólicas e as mais concretas contra os parentes Tenharim na cidade
de Humaitá e no seu território. Terminei esse ano com o nó na garganta, com
choro engolido por ver mais uma vez a violência do etnocentrismo sobre os
indígenas. Até quando vai ser assim: os territórios indígenas são invadidos e
os indígenas resistindo apesar dos genocídios e toda a tensão da relação interétnica entre não indígena e não indígena onde apenas o indígena é condenado e visto
como o selvagem??? Penso que sempre,
pois vamos continuar lutando por nossa existência, pelos territórios, sem
território não tem tradição cultural.
O
grande desafio que se coloca nesse 2014 é não ceder às pressões capitalistas e
etnocêntricas é manter a resistência é fazer uso das articulações políticas
para fortalecer a resistência. Nesse ano de 2014 vou ficar longe de tudo que me
renova para a luta para a vida, vou ficar longe das águas, das matas, dos
parentes dos espaços de seringais e dos territórios indígenas, mas vou ser
forte na selva de pedras (São Paulo) me aliar aos indígenas e não indígenas que
fazem uso do espaço da academia para fortalecer a defesa dos territórios dessas
populações. Vou me manter na luta sempre!!!!! Vou ser forte como meus parentes
indígenas.
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