Tudo índio tudo parente...
( música do Eliakim, poeta de Roraima)
( música do Eliakim, poeta de Roraima)
No mundo acadêmico existem diferentes discussões sobre identidade das naturalizantes, estruturalistas a niilistas. No espaço social ela é tomada como instrumento político para reafirmações coletivas e individuais. Eu sei que de todas as teorias que tive acesso, faço uso de um pouco de cada uma delas e nem sempre elas se complementam, às vezes, uma contradiz a outra, mas eu não entro em conflito não, afinal o ser em si é contraditório não é mesmo? Sendo assim, eu transito por percepções de que a identidade pode ser uma máscara e algumas pessoas insistem em torná-las fixas e ao mesmo tempo pode ser um enquadramento fragmentação, e também construção plural, ficcional, diluída, instrumento político, de luta, de resistência, de reinvenção de ser.
Eu venho pensando sobre a questão de identidade desde que realizei minha pesquisa de bacharelado com os Cassupá, um povo indígena que foi retirado de seu território tradicional na década de 40 do século XX, e por meio de uma política integracionista de apagamento e desestruturação dos Povos Indígenas, perderam seu território, sua língua, mesmo assim, atualmente passam por um processo de reconstrução identitária atravessada pela interação com os dois mundos - O indígena e o não indígena.
Durante o processo de pensar sobre a construção de identidade dos Cassupá constituía também o meu processo de construção de identidade. Entre não aceitar estereótipos e enquadramentos fui constituindo-me na liquidez das relações dos diversos mundos, me reiventando, amalgamando-me na fusão dos cheiros, dos gostos, dos jeitos da floresta, dos rios, das urbanidades e lutas da Amazônia com os prédios e transversais da metrópole.
Após um vivência intensa na metrópole mergulho no meu rio de memórias, de vivências outras da diversidade na Amazônia e voltando-me a história de mim mesma percebo-me envolta no meu ser indígena que aflora.
Sei que sou forjada nos dois mundos no indígena que herdei no rosto e no corpo e cada vez mais no sentimento e no dos brancos, no ocidental, mas ,os enfrentamentos atuais na educação escolar indígena tem feito-me sentir muito mais indígena do que branca. Mas, vale lembrar, que esse sentimento aflorou depois do mestrado em sociedade e cultural na Amazônia - UFAM, Universidade Federal da Amazônia, onde senti muito a presença amazônica, dentre elas a indígena. Por esse motivo, decidi me declarar no IBGE como Indígena, não quero ser mais parda, (política adotada para o apagamento da identidade Afro e indígena), ser parda é ser nada, ou melhor dizendo, merda nenhuma! Não sei dizer qual é minha etnia, pode ser Mura, pode ser MunduruKu, pode ser uma das tantas que desapareceram na Amazônia, mas o que importa é o sentimento de identidade construído, assumir ser indígena não me impede de assumir minhas multiplicidades de ser. Dentro dessas possibilidades, ontem na sessão em homenagem aos Povos Indígenas na Assembléia Legislativa eu falei para meus amigos e amigas (parentes) Karitiana, Aikanã, Puruborá entre outras etnias, que reafirmo minha parceria com eles na construção de uma política de educação escolar indígena que fortaleça seus territórias, culturas e sustentabilidade, disse encorajada pela fala das mulheres indígenas que mesmo que a história indígena tenha sido apagada na minha família e de muitas outras eu assumi a identidade indígena no IBGE, agora não sou mais merda nenhuma! Sou Indígena, Beradeira, neta de mulher seringueira... Ser que transita em diferentes mundos...
Concordo contigo pardo... é um o pagamento da diversidade das várias culturas que são esses brasis.
ResponderExcluir