Entre os dias 20 a 23 de junho de 2010 estive na aldeia indígena Juarí e tive a oportunidade de conhecer um pouco de sua história e adquirir algumas lições com seus ensinamentos do dia-a-dia. A comunidade está em processo de retomada de seu território ocupado tradicionalmente. Eles viveram lá a muito tempo atrás, no tempo de seus antepassados. Eles contam que seus antepassados morreram quase todos de doenças que eles não conheciam como, por exemplo, o sarampo. Eles falas que morreram muita gente e que tem um lugar dentro do território que se tornou um grande cemitério. Depois eles ficaram reduzidos e não tinha mulheres para casar foi o que fez eles se reaproximarem do outro grupo que fazia parte da etnia deles, mas era outro clã e que haviam se separados a muito tempo. O outro clã tinha mulheres e foi aí que houve as relações de intercasamento. Aos poucos eles aumentaram populacionalmente e não desapareceram. Atualmente o Clã da aldeia Juarí decidiu voltar para a sua aldeia antiga. Aprendi muito com eles ouvindo suas histórias antigas e as das lutas atuais. Hoje dentro do território existe uma fazenda e para chegar até onde estão reconstruindo a aldeia é preciso passar por uma grande extensão de pastos entre várias gados. É triste ver a devastação, mas é emocionante ver a resistência e a coragem da comunidade em retomar seu território.
Nos dias que estive na aldeia interagi com as crianças, com os adultos e com os mais velhos. Fiquei impressionada como nós da academia conceituamos tudo e eles vivem esses conceitos sem ninguem ter ido lá discutir com eles porque faz parte de seus saberes milenares. Por exemplo, eles adoram contar histórias e também gostam de ouvir. Eu contei uma história de uma pessoa que criou uma onça e depois a soltou com medo do IBAMA e a onça comeu uma criança na estrada. Nossa! eles ficaram impressionados com a história e contaram para o cacique tradicional que depois contou outra história de um indígena que também criou uma onça e ela era muito inteligente e mostrava a caça para ele, mas depois quis comer gente e, por isso, teve que mandá-la embora... Foi uma História lonnnngaaaa... Foi ai que eu vi que eles tem a concepção que toda a narrativa é uma criação que é criada por quem narra. A primeira coisa que o cacique falou antes de iniciar sua história foi que sua mãe havia contado a ele a história que eu havia criado... Nossa eu fiquei pensando na hora... eu tive que ler tanta coisa para poder argumentar que a narrativa é uma criação que se dá no ato da narração e o cacique com sua sabedoria vem me falar assim com toda naturalidade de como de fato é para eles. Outra coisa que eu descobri é que eles são extremamente pacientes e quando se pintam para a Guerra é porque é a última alternativa. A pintura de guerra para eles é sagrada e não é divulgada para todos, é por isso que na escola só há exposição das pinturas de festas femininas e masculinas feitas pelas crianças como atividade escolar.
Tive dias agradáveis na aldeia, fui muito bem recebida. Na noite de ouvirmos a mulher mais velha cantar os cantos antigos e os cacique tradicional contar algumas histórias míticas ao redor de uma fogueira numa noite de luar, ganhei milho torrado e peixe amunquinhado. Nesse encontro cultural foi feito alguns encaminhamentos de necessidades da comunidade para a educação escolar e em seguida gravamos os cantos da D. Joana Karitiana, os do Antenor Karitiana e as histórias contadas pelo cacique tradicional.
No dia de vim embora me despedi de todos e todas que me convidaram para voltar. Para eles as coisas que parecem ser simples na nossa cultura ocidental na deles é carregado de sentido, como um até logo que recebi de D. Joana, que mais que um até logo é mesmo uma expressão de estima. Para mim representou uma profunda consideração e desejo de volte sempre porque vc é bem vinda: Atara Yhaj (tiau irmã) com uma voz e um olhar cheio de carinho! Nossa esse gesto me faz sentir comprometida em voltar...
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