quarta-feira, 13 de julho de 2011

Aprendendo na escola Kyowã

Numa das atividades de construção pedagógica junto com professores indígenas, não indígenas e os estudantes Karitiana, tive a oportunidade de ter uma aula de história da chegada da língua portuguesa na Terra Indígena Karitiana. A ideia era fazer uma contextualização histórica do surgimento da escrita e nesse contexto falar de onde vem a língua portuguesa e como ela chegou até os Povos Indígenas. Tudo isso foi feito, eu expliquei tudo direitinho como uma boa professora de história e depois de ter feito todas as contextualizações eu perguntei para turma como foi que a língua portuguesa chegou até eles. Aí a aula começou e não foi eu que dei essa aula não, foi um aluno do primeiro ano do ensino médio da escola Kyowã. Ele já foi professor de cultura masculina do Ensino Fundamental e agora é candidato novamente para a função. Eu fiquei muito contente de poder vivenciar essa experiência de construção do conhecimento de forma coletiva. Depois de ter ouvido a narrativa do aluno eu solicitei a ele que escrevesse a narrativa. Ele escreveu e me entregou no outro dia, hoje eu a digitei para incluí-la no material que estou elaborando com produções de mapas temáticos e histórias dos espaços do território indígena Karitiana produzido pelos alunos. Divulgo esse texto para mostrar para algumas pessoas que não acreditam que os próprios indígenas são capazes de produzirem seus materiais didáticos ou mesmo assumir turmas no ensino médio, mas para além disso, porque por meio desse texto é possível perceber uma história do contato e da educação escolar com o Povo Indígena Karitiana que se deu primeiro por seringueiros, os padres salesianos, SPI até chegar a FUNAI e depois a SEDUC. Leiam com atenção! pois poderão aprender muito assim como eu. Como um dos objetivos da atividade desenvolvida em conjunto com o professor Carlos de português era ele apresentar depois da contextualização histórica as diferentes formas de documento que já são ulitilizados pelas comunidades indígenas tornando a escirta portuguesa um instrumento de luta, o aluno escreveu o relato da sua narrativa e apresentou em forma de relatório, pois o grupo dele ficou responsável de fazer um relatório enquanto outros elaboraram atas e oficios.

TEXTO

Relatório da aula sobre a história da Escrita
Por Antônio José Karitiana

A aula sobre a História da Escrita e o contato do homem branco com o indígena Karitiana foi ministrada pelo professor Carlos e pela professora Márcia.
No dia 26 de maio de 2011 aconteceu uma pequena reunião com os alunos no pátio da escola. Durante a aula os professores quiseram saber como foi o contato com o não indígena. Foi quando eu contei um pouco da história de como nós Karitiana ouvimos pela primeira vez alguém falar em português.  Então contei que o primeiro contato dos Karitiana como os nãos indígenas foi através do seringueiro.
Assim que apareceu o primeiro homem branco nós falamos com ele na nossa linguagem, mas os Karitiana não entendia nada do que ele falava e do que ele queria. Já que o indígena não entendia nada do que aquela pessoa falava ele apontava o dedo para o chumbo e o homem branco dava sal, depois nós resolvemos fugir para outro lugar. Nunca mais esse homem branco voltou. Passamos tempo nesse local e depois apareceu outro branco, dessa vez era um padre. Ele veio subindo o rio, nessa época o colonizador procurava pedras preciosas.
O pescador indígena foi quem encontrou a pessoa subindo o rio acima e voltou para contar para seu povo. Assim, todos ficaram sabendo que ia chegar o homem branco e ficamos aguardando. Com dois dias ele e outros que estavam com ele chegaram ao local onde os indígenas estavam. Assim, eles se apresentaram para o Povo Karitiana. Eles davam comida e vestuário. O Povo Karitiana não vestia roupa igual a do branco, e ,por isso, o padre distribuiu as roupas e nós começamos a usar essas roupas.
O padre passou uns dias na nossa aldeia e depois continuou a viagem com o pessoal que estava com ele. Eles continuaram a subir o rio e depois de três dias retornaram para a aldeia. Depois o padre resolveu ir embora. Foram quatro indígenas com ele até o varador que chegava na BR 364 que na época era de chão. Depois que chegaram lá os quatro indígenas retornaram para a aldeia.
Assim, quando o padre chegou na cidade foi diretamente procurar a autoridade que tinha interesse em cuidar dos indígenas. Assim, surgiu o SPI – Serviço de Proteção ao Índio que depois de um longo tempo se tornou FUNAI. Aí o SPI mandou seu funcionário trabalhar com os indígenas, foi quando chegou o Francisco para chefiar a aldeia, mas o Povo Karitiana não gostou do trabalho que ele fazia porque ele aprontava muito com as mulheres indígenas.
Os jovens da nossa aldeia que sabia falar com as autoridades resolveram ir para a cidade conversar com o coronel e a federal, assim, eles conseguiram fazer um documento e o Francisco, chamado por nós de Chico burro porque ele era malvado, saiu do trabalho de chefia na nossa aldeia. Então esses dois rapazes ficaram alegres, o nome deles era Antônio Garcia Karitiana e o Cizino Karitiana Danto Moraes .
Depois disso, apareceram dois trabalhadores não indígenas na aldeia, um era o Amauri e o outro era Fernando Cardoso. Fernando trabalhava de dar aula para os jovens indígenas. Assim, nós aprendemos a conhecer e falar a língua portuguesa. O outro trabalhador, o Amauri chefiava a aldeia e se apaixonou por uma índia e se matou com um revolver.


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