Depois de tantos convites da Arigóca para fazer alguma participação num de seus projetos de valorização da identidade Amazônica, enfim, pude participar da programação Amazônia das Artes do SESC/RO - 2015, onde a Arigóca está com um espaço paralelo. Arigóca é uma casa no bairro Arigolândia - um dos primeiros bairros de Porto Velho/RO. O nome Arigóca e arigolândia vem de arigó, nome dado, de mogo geral, para os nordestinos, ou outras pessoas que migravam para a Amazônia para trabalhar nos espaços de seringais e não tinha conhecimento da floresta. Sendo, assim, a casa Arigóca é um espaço de literatura, histórias, vivências, artes que valorizam a identidade amazônica e para além do espaço físico da casa tem feito parcerias com outros espaços e feito intervenções culturais. Eu ainda não tinha ido dar minha contribuição em suas atividades, não é porque eu não queria, mas, porque, a prioridade no momento tem que ser a tese de doutorado, meu compromisso político de registrar a memória de ocupação indígena no rio Madeira e o modo de ser indígena presente nas comunidades existentes às margens desse rio. Por esse motivo, tenho que limitar as minhas ações em outros espaços. Dessa vez, me senti mais que na obrigação de aceitar o convite para falar de literatura indígena, pois esse também é um compromisso político e uma maneira de agradecer a grupo de escritores e escritoras indígenas por terem me acolhido de forma tão carinhosa! Deixo aqui um trecho do texto de Daniel Munduuku que é a apresentação da revista Leetra Indígena, n. 02-2013: "Nossa literatura está intrinsecamente ligada à nossa compreensão cosmológica. Ela não é redutível a conceito ou definições capazes de fazer descrições sobre possibilidades de se encaixar aqui ou ali. Ela é um modo de se posicionar em um mundo em constante mutação. Não necessariamente ao mundo atual e às suas transformações. Nossa literatura é anterior ao quadradismo ocidental e à mesquinharia capitalista; ao endeusamento do indivíduo em detrimento do coletivo; ao encapsulamento dos conceitos promovidos pela escrita; ao esfacelamento do humano a favor da máquina. Nossa literatura está além das cosmologias étnicas trazidas pelas ciências humanas que deformaram as essências colocando em seu lugar aparências conceituais criadoras de divisão". Depois dessa citação, acredito que ficou entendido que a perspectiva indígena com a escrita definida como literária se distingue da visão canônica de literatura no pensamento não indígena, ocidentalizado.
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