sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Sobre as queimadas em Rondônia



Todo esse fogo não foi apenas descuido {...{




SOU Márcia Mura, do Rio Madeira, território ancestral Mura, moro numa comunidade às margens desse rio, que dentro da divisão de Estado fica em Rondônia, mas independentemente dessa divisão, nosso Povo está em toda a Amazônia, tendo maior concentração no Estado do Amazonas com terras demarcadas e outras com reivindicação para demarcação. No estado de Rondônia o Povo Mura em grande parte vive integrado nas comunidades ribeirinhas e se identificando como ribeirinho mantém a floresta em pé.

Saí da comunidade onde vivo no dia 05 de Agosto para ir até a Terra Indígena Itaparanã no sul do Amazonas, onde estamos lutando para que seja demarcado, somente após chegar de lá com apoio de aliadas e aliados e mesmo parentas indígenas consegui chegar a tempo para a Marcha das Mulheres Indígenas em Brasília, de lá segui de carona com as parentas de São Paulo para participar com elas de umas ações indígenas.

No dia 19 de agosto eu estava em São Paulo quando o tempo escureceu as 15:00 horas, vi pessoas assustadas dizendo que o motivo do fenômeno era as queimadas em Rondônia. Fiquei me perguntando: Se aqui está assim como deve estar lá?

Somente no outro dia consegui falar com um parente do coletivo Mura que muito preocupado falou que as unidades de conservação estavam pegando fogo, que muitos animais tinham morrido e que o cheiro de fumaça estava insuportável. Eu me desesperei, fiquei pensando nas crianças, nos idosos e nas demais pessoas inalando tanta fumaça e em toda a destruição.  O que vinha na minha cabeça era apenas um pensamento: -Pensei que não ia chegar a esse ponto!

Fiquei muito triste com as notícias que chegavam de Rondônia e toda a Amazônia, mas procurei ficar forte para chegar firme em Porto Velho. Quando cheguei procurei me inteirar melhor sobre o que tinha acontecido, pois o céu ainda estava coberto de fumaça. Deparei-me com uma matéria online da “Nova Democracia” sobre a morte de um casal humano em Machadinho do oeste onde várias casas de agricultores foram queimadas, conforme as imagens contidas na referida matéria. A morte dessas duas pessoas, que se tem notícia até agora, somava-se a morte das árvores e animais e isso não era manchete em todos os jornais de todo o Brasil.

Estou vendo agora mobilizações acontecendo em Brasília e São Paulo em defesa da Amazônia, tomara que não seja, um pavor momentâneo, que essa luta em defesa da Amazônia e de todas as florestas do Brasil seja uma luta de todos os dias e que sejam tomadas medidas para que cesse essa destruição, pois desde as construções das hidrelétricas em rios da Amazônia, como o Rio Madeira e Xingu, tem ocorrido muitas devastações, grandes áreas de desmatamentos, cemitérios de árvores e muitos animais mortos, só no Rio Madeira foram mais de sete mil toneladas de peixes mortos. Agora essas queimadas! Que não são de hoje que acontecem, mas agora ultrapassou todos os limites.

As perdas chegam a ser irrecuperáveis, pois não há nem tempo para a natureza se recuperar. Essa política de ocupação da Amazônia que desde o início foi destruidora e essa economia do agro negócio estão nos matando. Foi só jogar a faísca nos pastos secos e áreas de plantação de soja e desmatamento, para o fogo alastrar.   

Todo esse fogo não foi apenas descuido, ou será mera coincidência que as áreas em chamas estejam no entorno ou mesmo dentro de unidades de conservação, territórios indígenas e populações tradicionais? Fica ai a questão para pensar.

2 comentários:

  1. Teu olhar vem de dentro da Amazônia, já que a Amazonia está em todo lugar pois a ecologia é integral...este espaço denominado de Amazonia é um pulmão, um coração verde do planeta, somado a outras poucas áreas de florestas pelo mundo...pela sua grandeza de importância deve ser amada, respeitada e não odiada pelos que lucram com o modelo extrativista do agronegotoxico...
    Tomara que o "rio voador de fumaça" tenha despertado alguma consciência ao sul, sudeste e ao planeta...que as manifestaçoes saiam dos grupos econômicos do mercado de carbono e ganhe as ruas, corações e mentes de cada pessoa e que passem a fazer sua parte no lugar onde vive e não só olhem pra nós como que sendo responsáveis pela saúde do planeta e adotem posturas que não levem em conta nossa sociobiodiversidade...
    Tamo na luta amore mio Márcia Mura.

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  2. A Amazônia somos nós amore! Ela é nossa vida!

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