Todo esse fogo não foi apenas
descuido {...{
SOU Márcia Mura, do Rio Madeira,
território ancestral Mura, moro numa comunidade às margens desse rio, que
dentro da divisão de Estado fica em Rondônia, mas independentemente dessa
divisão, nosso Povo está em toda a Amazônia, tendo maior concentração no Estado
do Amazonas com terras demarcadas e outras com reivindicação para demarcação.
No estado de Rondônia o Povo Mura em grande parte vive integrado nas
comunidades ribeirinhas e se identificando como ribeirinho mantém a floresta em
pé.
Saí da comunidade onde vivo no
dia 05 de Agosto para ir até a Terra Indígena Itaparanã no sul do Amazonas,
onde estamos lutando para que seja demarcado, somente após chegar de lá com
apoio de aliadas e aliados e mesmo parentas indígenas consegui chegar a tempo
para a Marcha das Mulheres Indígenas em Brasília, de lá segui de carona com as
parentas de São Paulo para participar com elas de umas ações indígenas.
No dia 19 de agosto eu estava em
São Paulo quando o tempo escureceu as 15:00 horas, vi pessoas assustadas
dizendo que o motivo do fenômeno era as queimadas em Rondônia. Fiquei me
perguntando: Se aqui está assim como deve estar lá?
Somente no outro dia consegui
falar com um parente do coletivo Mura que muito preocupado falou que as
unidades de conservação estavam pegando fogo, que muitos animais tinham morrido
e que o cheiro de fumaça estava insuportável. Eu me desesperei, fiquei pensando
nas crianças, nos idosos e nas demais pessoas inalando tanta fumaça e em toda a
destruição. O que vinha na minha cabeça
era apenas um pensamento: -Pensei que não ia chegar a esse ponto!
Fiquei muito triste com as
notícias que chegavam de Rondônia e toda a Amazônia, mas procurei ficar forte
para chegar firme em Porto Velho. Quando cheguei procurei me inteirar melhor
sobre o que tinha acontecido, pois o céu ainda estava coberto de fumaça.
Deparei-me com uma matéria online da “Nova Democracia” sobre a morte de um
casal humano em Machadinho do oeste onde várias casas de agricultores foram
queimadas, conforme as imagens contidas na referida matéria. A morte dessas
duas pessoas, que se tem notícia até agora, somava-se a morte das árvores e
animais e isso não era manchete em todos os jornais de todo o Brasil.
Estou vendo agora mobilizações
acontecendo em Brasília e São Paulo em defesa da Amazônia, tomara que não seja,
um pavor momentâneo, que essa luta em defesa da Amazônia e de todas as
florestas do Brasil seja uma luta de todos os dias e que sejam tomadas medidas
para que cesse essa destruição, pois desde as construções das hidrelétricas em
rios da Amazônia, como o Rio Madeira e Xingu, tem ocorrido muitas devastações,
grandes áreas de desmatamentos, cemitérios de árvores e muitos animais mortos,
só no Rio Madeira foram mais de sete mil toneladas de peixes mortos. Agora
essas queimadas! Que não são de hoje que acontecem, mas agora ultrapassou todos
os limites.
As perdas chegam a ser
irrecuperáveis, pois não há nem tempo para a natureza se recuperar. Essa
política de ocupação da Amazônia que desde o início foi destruidora e essa
economia do agro negócio estão nos matando. Foi só jogar a faísca nos pastos
secos e áreas de plantação de soja e desmatamento, para o fogo alastrar.
Todo esse fogo não foi apenas
descuido, ou será mera coincidência que as áreas em chamas estejam no entorno
ou mesmo dentro de unidades de conservação, territórios indígenas e populações
tradicionais? Fica ai a questão para pensar.
Teu olhar vem de dentro da Amazônia, já que a Amazonia está em todo lugar pois a ecologia é integral...este espaço denominado de Amazonia é um pulmão, um coração verde do planeta, somado a outras poucas áreas de florestas pelo mundo...pela sua grandeza de importância deve ser amada, respeitada e não odiada pelos que lucram com o modelo extrativista do agronegotoxico...
ResponderExcluirTomara que o "rio voador de fumaça" tenha despertado alguma consciência ao sul, sudeste e ao planeta...que as manifestaçoes saiam dos grupos econômicos do mercado de carbono e ganhe as ruas, corações e mentes de cada pessoa e que passem a fazer sua parte no lugar onde vive e não só olhem pra nós como que sendo responsáveis pela saúde do planeta e adotem posturas que não levem em conta nossa sociobiodiversidade...
Tamo na luta amore mio Márcia Mura.
A Amazônia somos nós amore! Ela é nossa vida!
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