segunda-feira, 20 de abril de 2020

Todo dia é dia de luta indígena


No dia 19 de abril muitos da sociedade não indígena resolvem falar de "índio", principalmente nas escolas de ensino infantil da cidade onde as crianças são fantasiadas de "índio", colocam cartolina com peninhas e pintam as crianças com batom, alguns até mesmo hidrocor; raros casos os que se preocupam de pelo menos usar alguns lápis próprio para a pintura facial. Nada contra que se trabalhe a temática indígena nas escolas não indígenas, ao contrário tenho tudo a favor, mas não só no dia 19, que seja uma prática da escola como parte do componente curricular, conforme garante a Lei Nº 11.645, de 10 março de 2008. Embora, com as alterações feitas nas lei de diretrizes de base, muita coisa não ficou mais assegurada, nada impede que os projetos políticos pedagógicos possam contemplar o respeito aos Povos Originários desse país, às especificidades culturais de cada Povo e levando a percepção indígena para a escola, ao invés de manter um olhar estereótipo do "índio". 
É bom lembrar que todos os dias é dia de luta indígena, não apenas no dia 19 e no mês de abril, no entanto essa data no calendário não indígena, foi uma reivindicação do movimento indígena que soube muito bem tornar o mês de abril, um mês para enfatizar nossas pautas, concentrar nossas mobilizações e fazer chegar à nível nacional e internacional nossas reivindicações e denúncias das violações de nossos direitos, tendo em vista, que nesse mês pelo menos uma parte da sociedade não indígena está voltada para nós Povos Indígenas. Mas, antes e depois de abril nossa luta nas aldeias e nas cidades acontecem. 
Como no dia 19 eu estava muito ocupada atendendo a demanda da escola que trabalho, não tive tempo de compartilhar um pequeno vídeo falando dos desafios enfrentados na nossa escola e deixando uma mensagem para os educadores e demais pessoas que se interessam em saber sobre nós indígenas.

Espero que esse pequeno vídeo contribua em alguma prática diferente nas escolas, só peço que observem onde eu falo parenta Kauê é Kaê Guajajara. E sobre a atividade de ocupação na escola que mencionei já fiz uma postagem nesse blog.

Esse é um registro de atividade onde minha irmã Maíra e minhas sobrinhas Ludimilla e Letícia fizeram apresentação de uma coreografia de Balé Clássico e depois mais duas coreografias, uma da música do Grupo "Minhas Raízes" que é da comunidade e outra da música Território ancestral da Kaê Guajajara.

A ideia da apresentação de uma dança do balé clássico e duas com os ritmos musicais e movimentos corporais do contexto ribeirinho e indígena, foi para proporcionar o contato dos alunos com o balé clássico e depois mostrar nossos próprios ritmos e movimentos. Mostrar aos alunos o quanto é importante valorizar a própria cultura, independente do lugar que estejam e após a apresentação da dança e das trocas de vivências, elas falaram de suas experiências. Foi um momento lindo, pois além da apresentação das danças elas falaram de sua afirmação Mura. As crianças do turno da manhã, que foram contempladas com essa vivência no mês de janeiro na escola, amaram, conforme pode ser observado em seus semblantes, aplausos e trabalhos em sala. Foi uma troca linda dos alunos e alunas com as meninas artistas, nessa ocupação cultural Mura.

Também mencionei no vídeo, sobre meu retorno para Nazaré e das vivências indígenas, ribeirinhas e diversidade cultural. Segue algumas imagens:


Restabelecendo minha relação com os lagos, as florestas e os parentes no meu retorno para Nazaré, que iniciou em 2009 (nessa foto já havia se passado seis anos). Mas, somente em 2016, quando terminei o doutorado em História Social na USP, que fui morar em Nazaré e trabalhar na escola estadual. Nesse meio de ano de 2020 completará quatro anos. 


Depois de três anos morando na parte da vila de Nazaré, Iremar e eu resolvemos aceitar o convite dos parentes de dentro, mais próximo da floresta e fazer nossa casa tradicional, coberta de palha e cercada de paxiúba, que já está quase pronta. 



Nós a chamamos de maloquinha.   


Vivências na Escola




Minha primeira atividade sobre cultura indígena na escola com a turma do primeiro ano, logo que cheguei, em 2016, em pareceria com a professora Rebeca, na época estagiária da disciplina de Matemática, atualmente é a professora da escola.

Com meu filho Lucas Mura e minha amiga Deise da arqueologia fazendo vivência com a arte indígena na escola. (2017)

Fazendo grafismo Indígena numa das minhas alunas. (2017)

Meu filho Lucas Mura fazendo grafismo no meu sobrinho João, filho da minha prima Antônia. (2017)

Vivencia indígena com Edgar Calel artista do Povo Indígena Maya. (2017) 

 Nosso vivência de roda de conversa sobre modos de ser indígena na escola, em 2017.




Primeiro encontro de saberes e sabores coordenado por mim e meu primo Timaia (2016). 

Nesse encontro de saberes houveram trocas de alimentos tradicionais sem receita gourmet, somente as receitas das avós, dos bolinhos de farinha dá'gua à chicha doce e os remédios tradicionais, com direito a aula de uma das alunas sabedora tradicional, minha prima Elza, que nos ensinou como é feito os banhos de folhas medicinais. Ainda teve a exposição dos primeiros adereços indígenas produzidos pelas minhas sobrinhas Eliene e Erica filhas da Elza, que junto com o Tanã, meu filho mais novo, que terminou os últimos meses do terceiro ano do ensino médio na escola. Falaram para os demais da importância da afirmação indígena à partir de suas experiências. 



As fotos que registraram esses momentos não estão digital e na enchente de 2018 quando tivemos que sair da nossa casa, não sei onde guardei, mas assim que acabar a pandemia, vamos para nossa nova maloquinha e ai vou procurar nas coisas que ainda estão empacotadas.   





Sarau ribeirinho: arte e diversidade, coordenado pelo meu primo Timaia a Eugênia, diretora pedagógica na época (2018), onde apresentei uma narrativa indígena.


Temática do desfile de sete de setembro, onde eu e meu primo Timaia retomamos desde 2016 a prática que meu tio e pai dele que foi o primeiro professor de Nazaré, fazia dando outra significação para o 7 de setembro, trazendo a valorização da cultura local e as reivindicações de melhoria educacional. Em 2018 eu Timaia trabalhamos a temática do Extrativismo dos Povos da Floresta.



Alessandra Apurinã lendo um poema que traz a crítica ao termo "índio", que está no livro da Márcia Kambeba - Ay Kakyri Tama. (Atividade de sala de aula, 2019)


Experiências com literatura indígena em sala de aula, (2019)



Encerro com um registro junto com Lucas Mura e Timaia, de um dia que foi muito especial para nós e que vai para além das ações da escola, o lançamento do CD do Boi Curumim no teatro estadual em Porto Velho (2015). 


Kuekatu reté.

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