sexta-feira, 5 de abril de 2019

Ainda sobre 2018


O ano de 2018 não foi fácil! No começo parecia que ia ser muito bom, pois em janeiro recebi amigas e amigas na Maloca Mura:


No Rio Madeira indo para o embarque no barco que já havia iniciado o percurso da viagem. (Janeiro de 2018)
Indo passear no sítio do meu primo Reinado que fica no lago do Peixe Boi. (Janeiro de 2018)


E ainda havia alimentos no nosso roçado sem agrotóxicos para compartilhar:



Colheita de milho - roçado mura - 2018.


mamões que não deu tempo de amadurecer até chegar a enchente de abril de 2018.


















somando força Mura para arrancar uma raiz de macaxeira. (2018)









Participei do encontro Mura pela primeira vez na aldeia Sissaima no Amazonas, encontrei muitos Muras que me reconheceram e me fortaleceram. Estava muito animada, mas logo em abril, veio muitos problemas.







2018 houve muitos entraves políticos no campo educacional, cultural, social e consequentemente econômico. Foi preciso os trabalhadores da educação se mobilizar. Foi bom reencontrar colegas do tempo da graduação na luta.


luta por melhorias educacionais - 2018.
 De forma particular, foi um ano difícil no plano pessoal que não está desligado da esfera maior. Os maiores desafios que enfrentei foi no meu espaço de trabalho com a educação escolar e  na minha saúde. No campo educacional houve muita negligência com o atendimento de transporte escolar, o qual se dá por meio das voadeiras que transportam os alunos das comunidades até a escola. Enfrentamos várias paralisações, do final de julho, todo o agosto e uma parte do mês de setembro. Os pilotos que conduzem as voadeiras ficaram com mais de três meses sem receber e paralisaram. Ninguém assumiu a responsabilidade, no fim das contas quem se prejudicou foram os alunos e professores, os alunos por ficarem desestimulados e voltarem sem animo nenhum para a escola e os professores por ficarem sobrecarregados e sem infra estrutura para recuperar o ânimo dos alunos. Ainda assim, cada professora e professor procurou correr atrás do tempo perdido, foi um salve se quem puder. Foi muito desgastante.

processo de recuperação espiritual e física em Nazaré - 2018.
Foi preciso força para não desistir, mas o que piorou a minha situação foi ter sofrido um acidente no mês de abril numa área de alagação em Nazaré, eu e meu filho nos alagamos num dia em que a água estava muito corrente entre as casas e que subiu rápido até a noite, coisa que acontece quando são abertas as comportas das hidrelétricas.. O casco que estávamos navegando para irmos para casa alagou, virou em cima da nossa perna e a força da água fez com que ficássemos empresados na parede de uma casa. Nesse dia, senti uma grande revolta e um abandono muito grande. Desde então, minha saúde foi decaindo.
Após voltar da ATL - acampamento Terra Livre, fiquei bem mal, sem poder levantar da cama por um mês, mas criei forças para levantar pelas crianças do 6º ano que eu sentia muita falta e de alguns outros alunos de outras turmas. Voltei a trabalhar sem poder andar muito e ficar muito tempo em pé, mas fui enfrentando os desafios. Foi graças as pajelanças que me recuperei o suficiente para voltar para as lutas.

Em maio na marcha das mulheres junto com Maquezia Mura, Tanã Mura e Isabel do Levante indígena na USP que veio participar do canta mulher e vivenciar algumas experiências conosco na Maloca Querida, em Porto Velho e na Maloca Mura, em Nazaré.

Isabel radiante antes de sua apresentação no canta mulher - 2018.

marcha das mulheres - 2018

Coletivo Mura e Levante Indígena na marcha das mulheres - 2018.


Ainda em maio de 2018 unimos forças para demonstrar nosso repúdio a falas etnocidas  sobre o Povo Mura feita na Universidade Federal de Rondônia.

durante o ato de repúdio a falas etnocidas na UNIR - Universidade Federal de Rondônia.
Em setembro conseguimos fazer o desfile de 7 de setembro, com nossas intervenções em frente a unir centro.
2018 foi um ano que três mulheres que fizeram parte da minha vida fizeram a passagem, a tia Tereza, a tia Cila e a dona Maria Cassupá. Para a tia Tereza e a tia Cila eu ainda consegui fazer uma homenagem aqui no meu blog, mas para Dona Maria não consegui, na época de seu falecimento, no mês de agosto eu estava em São Paulo com duas sobrinhas apresentando rodas de conversas sobre modos de ser indígenas e difundindo nosso projeto com essa temática que realizamos todo mês de abril na escola. A necessidade de fazer a homenagem para Dona Maria, foi um dos motivos que me fizeram falar mais um pouco de 2018 antes de iniciar as postagens de 2019.

Povo Cassupá 

Atividade cultural de fortalecimento Cultural do Povo Cassupá. Eu estou entre uma senhora do Povo Salamãi e a Dona Maria Cassupá, do meu lado esquerdo.


Dona Maria foi minha colaboradora na minha pesquisa de Iniciação científica e bacharelado de história: A construção de identidade - Povo Indígena Cassupá. Fui conquistado a confiança dela aos poucos, mesmo depois da pesquisa, continuava sempre bem recebida por ela. Todas às vezes que ia visitá-la ou ia para alguma atividade na comunidade, ela sempre me presenteava com frutas coletadas por ela, principalmente tucumã. 
Em sua narrativa resultante de sua experiência de vida ela atualiza uma memória antes do contato e pós contato dos não indígenas com seu Povo. Tinha dez ano de idade quando foi retirada da sua aldeia junto co outros parentes. Fez todo o percurso de deslocamento do grupo que foi retirado do seu território. E ficou até seu últimos dias de vida na comunidade onde se encontra seu núcleo familiar, hoje a menor terra indígena demarcada, porém uma conquista que tive minha contribuição com a monografia que foi utilizada como documento para o ministério publico, que somado a outros documentos e ações pressionou para acontecesse a demarcação. 
Dona Maria a grande mãe do Povo Cassupá fez a passagem em agosto de 2018 e eu senti imensamente por não ido para seu ritual funerário, mas enfim hoje presto essa homenagem para essa mulher que na primeira vez que me dirigi a ela me olhou insegura, mas depois sempre me recebeu com seus sorrisos silenciosos.




no ato Ele Não - 2018.

Para encerrar registro que digo que os meses de outubro a dezembro foi de muita luta. Participei do evento de educação no campus da UNIR de Rolim de Moura onde fiz parte de uma mesa de mulheres, indígenas e negras, que pra mim foi importante, porque também quero poder contribuir na demarcação da presença indígena na universidade Federal de Rondônia. Foi depois essa participação que fui para o ato Ele Não e fui agredida, policiais. Foi uma difícil, mas levantei a cabeça fortalecida pela luta de outras mulheres que tomo como exemplo, as do meu Povo e as de outros povos, em especial as Guarani, as Kawiowá, as Tupinambá,  as Tenharim, dentre tantas outras.





Também tive a felicidade de estar na banca de mestrado de uma surda. Para mim foi uma grande experiência e pela primeira pude ter de fato o contato com a percepção surda. Foi uma conquista importante termos a primeira surda mestra na UNIR. Indira, uma grande intelectual surda.

 Ainda na qualificação da Indira onde apresentei um parecer considerando toda a especificidade de sua escrita. Uma semana depois a defesa.

 Visita a minha irmã Rosana e meu sobrinho apos um mês de seu nascimento. Tive a honra de está com minha irmã na maternidade e receber meu sobrinho.
Fazendo intervenção no sete de setembro com temática - Tradição e modernidade - 2018


Filha do coração Gabi, seu namorado e Ally 


Em 2018 comemorei com mais força meu aniversário, pois havia superado grandes desafios com a saúde. Do meu lado amigo Ally. 







Na assembléia das mulheres indígenas de Rondônia com Rosa Arara - Agosto de 2018.










 Muitas ações com o coletivo Mura em 2018. Nessa foto recebendo a Lilian Potigura do Levante Indígena na USP. Janeiro de 2018.
Com Claudinho Mura e demais parentes Mura - Janeiro de 2018.

Deixo aqui meu agradecimento ao centro de pesquisa Mura que acolheu na Universidade do Pará no campus de Cametá, onde fiz uma conferencia de abertura de um seminário, compus e mediei mesa. Eu ainda estava traumatizada com a agressão sofrida, mas o carinho, a atenção, o respeito que recebi de todos, me fizeram me sentir pela primeira vez totalmente a vontade sem me preocupas com nenhum olhar ou atitude preconceituosa. Assim encerro enfim os registros de 2014, ano que não queria acabar.


Difícil foi! Mas a luta pela existência e resistência persistiu.







Acampamento Terra Livre - Agir - Mulheres indígenas de Rondônia - 2018.
















 muitos rituais cura para seguir firme em 2018



Ainda fiz parte do documentário da Raíssa - sobre memórias de Porto Velho. Dia de gravação de entrevista na Maloca Querida.
Com as parentas Karitiana- 2018.



Deixo aqui meu agradecimento ao centro de pesquisa Mura que acolheu na Universidade do Pará no campus de Cametá, onde fiz uma conferencia de abertura de um seminário, compus e mediei mesa. Eu ainda estava traumatizada com a agressão sofrida, mas o carinho, a atenção, o respeito que recebi de todos, me fizeram me sentir pela primeira vez totalmente a vontade sem me preocupas com nenhum olhar ou atitude preconceituosa. Assim encerro enfim os registros de 2014, ano que não queria acabar.

Meu maior presente chegou em Dezembro de 2018: O nascimento do meu neto que recebeu nome ancestral Mura: Buhuraem que significa Tupana das águas.








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